A preocupante solidão dos bancos centrais no combate à crise

Presidente do BCE pede alinhamento de políticas entre bancos centrais e governos à escala global para combater risco de deflação.

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Instituição liderada por Mario Draghi tem fornecido liquidez ilimitada à banca da zona euro Daniel Roland/AFP

Com o Banco Central Europeu (BCE) a usar já todas as armas ao seu dispor para evitar o risco de deflação na zona euro e a economia mundial ainda sem dar sinais claros de arranque no meio de mais um surto de instabilidade financeira, Mario Draghi reforçou esta quinta-feira o apelo para que outros actores ajudem a instituição a que preside a cumprir o seu mandato.

O pedido foi feito no discurso de abertura do primeiro dia de trabalho do Fórum do BCE, que reúne em Sintra alguns dos mais conhecidos economistas e responsáveis pela política monetária de todo o mundo. E foi feito, dirigindo-se tanto aos governos como aos outros bancos centrais.

Mario Draghi defendeu que, num mundo cada vez mais interligado, aquilo que acontece num ponto do globo produz efeitos de contágio imediatos no resto do mundo. E assinalou que, com as taxas de juro já próximas de zero em todas as maiores economias, se torna-se difícil para os bancos centrais combater com eficácia o actual cenário de inflação demasiado baixa e de crescimento lento que se regista um pouco por todo Mundo.

E, por isso, a resposta, para ser eficaz, tem de ser também global, defendeu o presidente do BCE. “O facto de todos os bancos centrais terem enfrentado o desafio comum de uma inflação baixa não é uma coincidência. Há factores globais em jogo. E isto força uma resposta à pergunta: qual é a melhor maneira de lidarmos com esses factores globais?”, afirmou.

O problema é exactamente saber aquilo que pode ser feito. A ideia que surge no imediato é que os bancos centrais coordenem as suas políticas. No entanto, entre os economistas presentes no encontro realizado em Sintra, foi quase unânime a opinião de que é muito difícil esperar que os bancos centrais, com mandatos centrados em interesses exclusivamente nacionais, possam passar a funcionar com alguma espécie de mandato comum.

Por isso, admitiu Draghi, a solução não é uma coordenação formal das políticas entre os bancos centrais, algo que disse ser “complexo”. O presidente do BCE preferiu usar antes a expressão “alinhamento das políticas”. E o que é que isto significa? Draghi explicou: “Temos de pensar não apenas na composição das políticas dentro das nossas jurisdições, mas acerca da composição global que pode maximizar os efeitos da política monetária para que os nossos respectivos mandatos possam ser cumpridos sem sobrecarregar ainda mais a política monetária, e assim limitar os efeitos de contágio desestabilizadores”.

E na prática, especificamente para combater o risco de deflação e estagnação, Draghi assinalou que “a posição relativa das políticas de estabilização vão ser diferentes em cada um dos países, dependendo da posição cíclica de cada um, mas o sinal do efeito nas necessidades de procura global precisa de ser positivo”.

O presidente do BCE, tal como tem vindo a fazer desde 2014 de forma cada vez mais transparente, assinalou os limites que a política monetária enfrenta, dizendo que o alinhamento de políticas de que fala não é apenas entre os bancos centrais e inclui também os governos, com as suas políticas ao nível das finanças públicas e regulação. “Há uma responsabilidade comum para enfrentar as fontes da inflação baixa seja qual for a sua origem”, salientou Mario Draghi.

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