O animal de Moullinex: David Bowie

Conhecê-los é também conhecer a relação que têm com os seus animais. David, um weimaraner de três anos, está quase desde que nasceu com o DJ e produtor Luís Clara Gomes, mais conhecido por Moullinex: "É um afecto físico e emocional muito grande"

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Moullinex

"Eu e a Joana, a minha mulher, sempre quisemos ter um cão, mas sempre pusemos essa ideia de parte, por causa das nossas dificuldades horárias. Sempre viajei muito e não queria deixar um animal ao abandono. Até que surgiu um bom 'timing', numa altura em que eu estava entre álbuns e tinha mais disponibilidade: a fase inicial de ter um cachorro requer mais tempo, não o íamos deixar oito horas sozinho em casa. E a verdade é que a minha vida pode não ser muito rotineira, mas acabo por passar muito tempo em casa quando estou em Lisboa. Acabou por fazer sentido. O David é um weimaraner, tem três anos e está connosco há dois anos e onze meses. Chama-se David Bowie mas nós chamamos-lhe David [em português]. Queríamos homenagear um músico. Inicialmente até se ia chamar Stevie Wonder, mas queríamos um primeiro nome que fosse comum em inglês e português, como é o caso de David.

Não queríamos ter um cão para passear ao fim da tarde, mas alguém que fizesse parte da nossa família, até porque temos a decisão consciente de não querer ter filhos. Não substitui um filho, mas acho que o tratamos como tal. Sentimos que temos um projecto conjunto, consideramos que aumentamos a nossa família. Tanto é que os meus pais e os pais da Joana acabaram por adoptá-lo e têm tantas saudades dele como nós. Ainda ontem tivemos de fazer uma chamada no Skype para o verem.

Optámos por o comprar porque estávamos à procura de traços em especial que esta raça tem. Obviamente que este não é um assunto que me deixe 100% satisfeito com a minha acção, mas queríamos um cão que estivesse habituado a estar em casa, mas que também tivesse energia, também para nos motivar. Se calhar, com o que aprendi, hoje já estaria preparado para adoptar qualquer tipo de cão. Considero fazê-lo, mas sou sincero: o esforço, a dedicação e o amor que damos a este animal, tenho muita dificuldade em encarar dar a um segundo porque aí não teríamos tempo mesmo para mais nada. Mas, por outro lado, quem tem um animal, tem outro. É uma coisa que consideramos, mas não para já.

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Sou mais de cães. O tipo de personalidade de um cão agrada-me mais. Acho que ninguém tem um gato: as pessoas vivem com um gato ou o gato vive com eles e tolera-lhes a companhia. Um aspecto mesmo gratificante de ter um cão é o amor incondicional, é um afecto físico e emocional muito grande. Embora saiba que nem todos os cães são iguais, nem todos os gatos são iguais, parece-me que os cães permitem-nos mimá-los infinitamente.

Vivemos num apartamento, mas temos um jardim grande mesmo em frente a casa. Costumamos ir lá duas ou três vezes por dia. Os animais acabam por nos ajudar a melhorar a nossa vida. O aspecto de ter uma rotina é benéfico, sobretudo se isso contempla actividades físicas ao ar livre. O David ajudou-nos a implementar isso. Fazemos muitas vezes os planos em função dele, o que eu não vejo como um peso, mas sim como uma forma de nos ajudar a sermos mais activos e a viver mais a vida ao ar livre. Geralmente, de manhã estamos os dois com ele em casa. De tarde, depende. Levo-o muitas vezes para o estúdio. Ele adapta-se a tudo: está habituado a estar no estúdio com música alta, já esteve em ensaios, já o levamos para uma festa em que toquei na passagem de ano. Acaba por ser um esforço bilateral porque ele também se adapta muito a coisas que não serão normais na vida de um cão.

A coisa mais fácil do mundo é fotografá-lo e filmá-lo. Já apareceu no vídeo da 'In The Shade' e num projecto que tínhamos, um site interactivo. Ele parece que se dá à câmara. É muito mais 'attention-seeking' do que eu, que fico desconfortável à frente da câmara. No dia 24, foi a estreia de um documentário sobre o álbum 'Elsewhere', que foi feito ao longo do ano passado, e ele aparece várias vezes, nunca foi difícil filmá-lo. Tanto é que até tem um instagram próprio: @thedavidbowie [Vê a galeria aqui].

Não creio que a defesa dos direitos dos animais seja uma moda. Acho que o assunto está a ser mais debatido, mas a verdade é que ainda há muito para se andar. A lei continua a contemplá-los como objectos, o que é sintomático de uma sociedade pouco evoluída. Temos muito a caminhar num país em que os meus impostos contribuem para suportar a tortura subsidiada de touros e a exibição destes espectáculos de tortura bárbara na televisão pública. Mesmo com os argumentos de que é cultura, para mim nenhuma cultura contempla o sofrimento gratuito de animais. Infelizmente, muitas vezes, entre a vontade pública e a vontade política há uma discrepância significativa."

Depoimento construído a partir de uma entrevista.   

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