Se O Que Está por Vir é o melhor filme de Mia Hansen-Love desde O Pai dos meus Filhos é porque encontra uma maneira de quebrar o invólucro psicológico em que se enfiavam, por exemplo, as personagens do decepcionante Eden, e fazer aparecer uma manifestação eminentemente física. Corporizada por Isabelle Huppert (de quem não vale a pena repetir pela enésima vez que é uma actriz enorme), que está sempre no centro e está sempre em acção: o filme “é” Huppert a caminhar, às voltas na sala de aula como na panorâmica da sequência inicial, ao telefone numa praia de calhaus aos saltos para não magoar os pés, a transportar pesos (uma pilha de livros ou uma gaiola com uma gata), a deitar flores ao lixo, a tirar livros da prateleira, a pôr livros na prateleira.

Não é que a psicologia se esvazie, mas é por ela se revelar assim (pela acção, pela inquietude, pelo movimento constante), e por assim trazer para primeiro plano, como coisa para ver mais do que como coisa para ser demonstrada, o estoicismo da personagem, que o filme de Mia Hansen-Love se consegue, para além daquelas fotogenia e dramaturgia muito escorreitas e muito fluidas em que parecia estar a tombar.