Apanhar moscas com mel

Michael Moore substitui o panfleto puro e duro pelo optimismo bem-disposto, o que lhe fica bem.

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Michael Moore ter-se-á fartado de ser o porta-voz assumido e assumidamente interventivo do documentarismo/reportagem de esquerda norte-americano. Afinal, um homem só consegue ser o “bombo da festa” da direita partidária americana até certo ponto, e um filme como Capitalismo - Uma História de Amor (2009) era muito mais interessante devido às dúvidas que revelava num edifício até aí feito de certezas.

E Agora Invadimos o Quê? é, de certo modo, o “passo seguinte” desse processo, substituindo a invectiva panfletária de Fahrenheit 9/11 (2004) ou Bowling for Columbine (2002) por uma visão mais acalmada e bem-disposta. Como se Moore tivesse finalmente rendido à evidência de que se apanham mais moscas com mel do que com insecticida, vá de partir à viagem pela Europa para “capturar” ideias de sucesso locais capazes de melhorar a tão disfuncional sociedade americana – e descobrir no caminho que a maioria dessas ideias vinham, originalmente, da democracia americana. Sim, nada do que Moore mostra é novidade para um público europeu – e nós sabemos como o cineasta simplifica as coisas para o espectador médio americano, que continua a ser o principal destinatário do seu trabalho. Mas é igualmente verdade que E Agora Invadimos o Quê? vai dizendo coisas muito sérias com um sorriso nos lábios, e que esse sorriso, acalmando a pose panfletária, ajuda a torná-lo no filme mais válido de Moore em bastantes anos.

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