O assédio moral no local de trabalho é anti-capitalista

Num contexto económico e empresarial em que o lucro é tudo, o assédio moral no local de trabalho não só é economicamente irracional, como é uma espécie de suicídio económico

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geralt/ Pixabay

O assédio moral no local de trabalho é tão antigo como o próprio trabalho. E por ser tão antigo, os mecanismos normalmente utilizados são bem conhecidos. O principal e o preferido por todos os superiores hierárquicos que optam por ter uma atitude autocrática é o velho princípio do “dividir para reinar”. Este princípio apoia-se na crença de que o poder de um pode ser assegurado através da fragmentação do poder partilhado por outros ou do impedimento ao estabelecimento de alianças entre aqueles que se lhe opõem, na realidade ou num plano imaginário.

Tem os seus seguidores desde os tempos clássicos e foi defendido, por muitos, como estratégia militar e mecanismo de gestão das relações humanas nas suas mais variadas dimensões e cambiantes, até aos dias de hoje. Os seguidores desta crença, com uma fé inabalável nos resultados que desejam obter e com muito pouca ou nenhuma fé na inteligência dos demais e na sua clarividência, vão semeando a desconfiança entre os seus potenciais rivais, recorrendo a esquemas que vão desde a intriga comezinha à difamação e à infâmia, vão usando manobras de diversão e linguagem ambivalente e ambígua para esgotarem os seus alvos esperando que estes, confusos, comecem a disparar em todas as direcções e que, por fim, soçobrem, sozinhos, isolados e desconcertados.

Este modus operandi é, normalmente, reforçado por estratégias de humilhação, de intimidação, de ameaça, de perseguição e de menorização dos indivíduos e, ao aplicá-lo à gestão de recursos humanos e de equipas de trabalho, na realidade, os gestores acabam por cometer um verdadeiro atentado à lógica capitalista que preside à organização de qualquer empresa que tenha como objectivo continuar a operar num sistema capitalista, claro está.

E passo a explicar. A quimera da racionalidade aplicada às actividades económicas defendida pela lógica capitalista é a da maximização dos lucros. Os lucros maximizam-se privilegiando atitudes que minimizam os custos. Falemos então de custos. Num artigo recentemente publicado na Forbes, o autor, que se apoia em vários estudos levados a cabo em diferentes países, demonstra que o bullying no local de trabalho conduz à perda de muitos milhões anualmente. Porquê? Porque tem como efeitos a baixa produtividade, o elevado absentismo, um nível de motivação diminuto por parte dos empregados. Tudo isto resulta num decréscimo das receitas e aumento das despesas. Em suma, os “patrões” que assediam moralmente os seus “colaboradores” atentam contra a própria empresa e colocam em risco as contas bancárias que tanto prezam.

Não está aqui em causa a necessidade de os superiores hierárquicos empreenderem uma reflexão acerca do seu conceito de natureza humana nem terem “A Teoria dos Sentimentos Morais” como livro de cabeceira. O que seria importante sublinhar, num contexto económico e empresarial em que o lucro é tudo, é que o assédio moral no local de trabalho não só é economicamente irracional, como é uma espécie de suicídio económico do empregador/ gestor/ director que, em última instância, conduzirá a empresa que gere ou da qual é proprietário, à implosão. E mesmo que, entretanto, ainda não o tenha feito, o lucro que poderia obter seria ainda mais elevado caso não insistisse em assumir a atitude de déspota não-esclarecido que faz jus em encabeçar uma cultura empresarial tóxica. E considerações económicas à parte, é sempre bom lembrar que o assédio moral no local de trabalho é crime e que, como tal, tem e deve ter consequências legais para além daquelas estritamente financeiras.

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