Manifestações em Paris contra código do trabalho fazem 40 feridos
Em pleno Euro 2016, onda de greves abala a capital francesa. Grande manifestação de protesto organizada pelos sindicatos, esta terça-feira, marcada pela violência.
Os principais sindicatos franceses – CGT, FO, FSU, Solidaires, UNEF, UNL e FIDL – e alguns partidos como o comunista, convocaram uma grande manifestação de protesto contra a reforma da legislação laboral que, segundo os organizadores, contou com a presença de um milhão de trabalhadores em Paris. Já a polícia disse que estiveram entre 75 e 80 mil pessoas nas ruas da capital.
Por toda a França, a central sindical CGT aponta para o protesto de 1,3 milhões de manifestantes. As contas oficiais do Governo, apresentadas pelo ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, reduzem significativamente esse número para 125 mil manifestantes, que marcharam em Marselha, Toulouse, Rennes e Lyon. Apesar da diferença dos números, ambos os lados concordaram que se tratou da maior mobilização desde que se iniciaram os protestos contra a lei.
A jornada de luta ficou marcada pela violência e duros confrontos – a esse propósito, a ministra da Saúde, Marisol Touraine, lamentou o que descreveu como um “ataque intolerável” a um hospital público, onde alegadamente os manifestantes partiram janelas. O Le Monde avança, citando as autoridades francesas, que 40 pessoas ficaram feridas: 11 são manifestantes e 29 são membros das forças de segurança. “Centenas de pessoas encapuçadas” atiraram projécteis contra a polícia, acrescenta a AFP. O Libération confirma ainda que, na sequência dos confrontos, foram feitas 73 detenções.
“Não vamos parar com os protestos por causa da violência. Até existirem manifestações eu continuarei a vir”, afirmou ao Le Monde Sylvain, um dos participantes, que apesar de se mostrar desiludido, acredita que “é preciso continuar a lutar, porque esta é a via democrática de participar nas lutas sociais”. O estudante de 24 anos assistiu ao protesto através do cordão da CRS, a polícia de choque que controlou o cortejo dos manifestantes ao longo da esplanada dos Invalides, bloqueando em alguns momentos a manifestação.
A par da marcha de protesto, foram convocadas várias greves que decorreram por todo o país. Esta terça-feira, uma das maiores atracções turísticas de Paris esteve fechada: a Torre Eiffel não recebeu visitantes por não conseguir garantir a sua segurança, por falta de trabalhadores, segundo revelou a companhia SETE, operadora do mais icónico monumento francês. A circulação na capital foi ainda afectada pela participação dos trabalhadores ferroviários e dos taxistas nos protestos.
Hoje foi também o derradeiro dos quatro dias de greve da Air France. Segundo a Lusa, a companhia área indicou em comunicado que 1030 voos foram cancelados e que 127 mil passageiros foram afectados. A normalidade deve regressar já esta quarta-feira.
A reforma do código do trabalho proposta pelo Governo é denunciada pelos sindicatos como uma regressão social quanto aos salários e à precarização do trabalho, facilitando os despedimentos. A onda de greves que se prolonga já há dois meses tem afectado diversos sectores da economia francesa, paralisando a recolha do lixo ou a actividade das unidades de produção de combustíveis ou energia . “Participei em todas as manifestações desde Março, porque quero viver com dignidade e não apenas sobreviver”, disse uma dos manifestantes em Paris, Aurélie Boukelmoune, de 26 anos, que trabalha nesse sector.
Esta sexta-feira terá lugar a reunião com o dirigente da CGT, Philippe Martinez, figura central das greves contra a nova lei do trabalho, com a ministra do Trabalho, Myriam El Khomri, que chegou a estar anunciada para o fim-de-semana passado, num último esforço do Governo para salvar a imagem de França antes do arranque do Euro 2016. Estão previstos mais dois dias de greves e manifestações por todo o país para os dias 23 e 28 de Junho, revela a AFP.
Notícia editada por Rita Siza