Nove em cada dez crianças refugiadas chegam sozinhas à Europa
Desde o início do ano já chegaram a Itália 7009 crianças desacompanhadas. UNICEF exige medidas aos países de origem, trânsito e destino.
Nove em cada dez crianças chegadas a Itália como refugiados e migrantes não vêm acompanhadas, o dobro do ano passado, revela a UNICEF.
Num relatório intitulado “Os perigos a cada passo”, publicado esta terça-feira, o Fundo das Nações Unidas para a Infância precisa que no decorrer dos primeiros cinco meses do ano, 7009 crianças desacompanhadas efectuaram a travessia do Norte de África para Itália. “As razões pelas quais assistimos a este aumento não são claras neste altura, e é necessária uma análise mais aprofundada”, declarou em Genebra a porta-voz da UNICEF, Sarah Crowe.
Desde o dia 1 de Janeiro que 2859 pessoas morreram no Mediterrâneo, incluindo um elevado número de crianças. Em 2015, o número foi de 3770, de acordo com dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
As crianças que fazem a viagem sem acompanhantes são obrigadas a trabalhar durante o percurso, o que as expõe a riscos de violência e exploração sexual, adianta a UNICEF. Membros dos serviços sociais italianos informaram a agência que raparigas e rapazes são forçados a prostituírem-se na Líbia, e que várias raparigas vítimas de violação estavam grávidas quando chegaram a Itália.
“É uma situação desesperada, envolta pelo silêncio – está longe dos nossos olhos, e por isso é ignorada”, lamenta Marie-Pierre Poirier, coordenadora especial da UNICEF para a crise dos refugiados e migrantes na Europa. “Trata-se de dezenas de milhares de crianças que estão em risco todos os dias, e de centenas de milhares de outras que estão prontas a arriscar tudo. Devemos urgentemente proteger estas crianças contra todo o tipo de maus tratos e de exploração por parte daqueles que se aproveitam da situação para explorar os seus sonhos”, adianta.
A UNICEF avisa que, com a chegada do Verão, o número de crianças que se preparam para fazer sozinhas o itinerário do Mediterrâneo Central deverá aumentar. A agência da ONU recorda que existem actualmente 235 mil migrantes na Líbia, entre os quais dezenas de milhares de crianças desacompanhadas, que pretendem chegar à Europa.
“Todos os países, aqueles que as crianças deixam, aqueles que atravessam e aqueles onde procuram asilo, têm obrigação de pôr em prática dispositivos de protecção centrados nos riscos que correm as crianças não acompanhadas”, exige o relatório.