Lisboa já alcançou as metas de redução de CO2 exigidas pela UE mas quer ir mais longe

A cidade reduziu 50% das suas emissões de dióxido de carbono, mais do que duplicando o que era exigido pela União Europeia. Mas nas palavras do vereador José Sá Fernandes é preciso fazer mais. Para isso, já foram lançadas medidas.

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A cidade reduziu 50% das emissões de CO2, entre 2002 e 2014. Foto: Carla Rosado

“Não estou contente porque quero mais”. Foi desta forma que o vereador da Estrutura Verde e Energia, José Sá Fernandes, reagiu aos resultados alcançados com as medidas de redução do consumo de energia em Lisboa. Tendo como ano de referência 2002, a cidade conseguiu reduzir 50% das emissões de dióxido de carbono, um gás com efeito de estufa. O objectivo era 20% para 2020. Para o autarca, a cidade pode ir mais longe e “não é por ilusionismo, é porque é possível”, afirmou nesta quarta-feira, durante a apresentação da matriz energética da capital.

No Pacto de Autarcas, assinado por Lisboa em 2009, a cidade comprometia-se a reduzir, até 2020, 20% das emissões de CO2, através da redução do consumo de energias fósseis e do aumento da produção de energia renovável. Objectivo cumprido. Concretamente, no que diz respeito ao consumo de electricidade, a redução acabou também por ser superior à meta prevista no Plano de Acção para pôr em prática o Pacto. A cidade teria de consumir menos 780 quilotoneladas, entre 2002 e 2020, mas atingiu as 864 kton entre 2002 e 2014.

Numa comparação nacional, Miguel Águas apontou que o consumo anual de energia per capita no concelho de Lisboa é menos 7% da média nacional. O director técnico-financeiro da Lisboa E-Nova, a agência municipal de energia e ambiente, salientou que os efeitos se fazem notar porque o número de habitantes de Lisboa é “significativamente inferior“ ao número de pessoas que circulam durante o dia na cidade. Para estes resultado conta também o reduzido peso dos sectores primário e secundário em Lisboa e que são grandes emissores de gases com efeito de estufa.

Quanto aos consumos das estruturas da própria Câmara Municipal, registou-se uma redução do consumo de electricidade de 23%, entre 2008 e 2015, havendo uma diminuição de cerca de 11% face ao consumo em 2014. Também o consumo de gasóleo na frota da autarquia teve uma diminuição de 37%, entre 2008 e 2015. “Esta percentagem deu-nos o sinal que é possível mudar e atingir os objectivos de 2020, mesmo que um dos indicadores tenha sido a perda de vários postos de venda de combustíveis em Lisboa”, afirmou Sá Fernandes.

Os edifícios são outra das prioridades na redução das emissões de CO2 do município. Para isso, a aposta faz-se através da certificação energética, que permitirá fazer a “avaliação energética do prédio, para se fazer a estimativa de consumo, permitindo depois lançarmedidas de melhoria”, explicou Carlos Leonor, técnico da câmara. “No fundo, é como o cartão de cidadão dos edifícios em termos energéticos: Sabemos o nome, a idade, mas estamos a reduzir a energia para ficarmos com uma foto melhor”, comparou Sá Fernandes. “Por exemplo, neste edifício [Paços do Concelho] sabemos que é só preciso mudar as lâmpadas” para se conseguirem melhorias, acrescentou o vereador.

Entre as medidas que estão a ser implementadas, o vereador salientou a iluminação pública, a converter para LED e que se acende apenas quando alguém passa, ou o investimento nas Smart Cities, que permitem detectar os maiores consumos na cidade. “No fundo, é para saber onde devemos actuar, para saber onde devemos gastar e onde é que não devíamos gastar tanto”.

Também o aumento do número de viaturas eléctricas e com sistema inteligente de carregamento eléctrico é um objectivo para a autarquia. “Outro factor importante são os transportes públicos e a mobilidade suave, nomeadamente a utilização das bicicletas”, afirmou o autarca, apontando também como meta a redução de tráfego na cidade.

Relativamente à sensibilização dos lisboetas para a redução do consumo energético, Sá Fernandes confessa que há ainda trabalho a fazer.

O uso eficiente da água foi outros dos temas focados, tendo-se concluído que houve uma redução de 30% do consumo entre Janeiro de 2014 e 2016. Foram avaliados 16 locais em Lisboa, como o Cemitério dos Prazeres ou o Jardim da Estrela, pois estes espaços representam 80% do consumo total de água na cidade, tendo-se procurado medidas de optimização para reduzir os gastos.

“Agora estamos a aplicar essas medidas em cada um dos locais. Depois de aplicadas, o importante é monitorizar e verificar se as medidas estão a resultar e, se não estão a resultar,porquê”, explicou ao PÚBLICO Ângelo Mesquita, presidente do conselho de administração da Lisboa E-Nova. “Já conseguimos poupar cerca de um milhão de euros em água por ano só com estas medidas”, revelou.

É a olhar para estes resultados que José Sá Fernandes afirmou ao PÚBLICO que “é possível fazer mais”. “Temos de investir, mas como se pode ver, os paybacks até são relativamente rápidos". Um dos exemplos foi a descoberta de uma ruptura no parque de campismo de Monsanto. O tanque de compressão estava roto e a água saía, gerandoum desperdício de 25.000 euros. A reparação teve esse valor, o que acabou por compensar no final.

O vereador não se mostrou surpreendido com os resultados.“Quando nós assinámos o Pacto dos Autarcas sabia que íamos atingir aqueles resultados. A nossa estratégia ambiental dizia isso”, revelou, referindo-se Estratégia Enérgico-Ambiental para Lisboa, aprovada em 2008 pelo executivo. 

Texto editado por Ana Fernandes

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