A elite portuguesa em Paris e o Presidente Hollande aplaudiram as gardiennes

Chefe de Estado francês prometeu a Marcelo e Costa apoio na rejeição de sanções a Portugal. Na “segunda capital” lusa, todos falaram a mesma língua e pediram “uma outra Europa”.

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A sala de recepções do antigo Hôtel de Ville, coração da comuna de Paris no séc. XIX e sede da câmara, não encheu, mas ficou perto. Cerca de 800 pessoas que representam a elite portuguesa e de luso-descendentes na capital francesa foram convidadas: professores, investigadores, vereadores, dirigentes associativos, artistas, diplomatas, funcionários de instituições como o Instituto Camões, a Fundação Gulbenkian e consulados… A cerimónia era única e as personalidades presentes também: pela primeira vez, as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades realizava-se fora do país e culminava nesta cerimónia na capital francesa, na presença dos Presidentes de Portugal e França, do primeiro-ministro António Costa e da “mairie” da cidade, Anne Hidalgo. E todos haviam de homenagear, condecorando, os heróis portugueses dos atentados de 13 de Novembro: os quatro gardiens de prédios vizinhos do Bataclan que naquela noite abriram as portas para ajudar as vítimas do assalto àquele teatro.

Sob as três palavras que marcaram a Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade —, inscritas nas abóbadas do salão, falava-se em francês e em português como se de uma só língua se tratasse. Politicamente também. O primeiro-ministro português salientou (em francês) essa proximidade: “Partilhamos um destino comum na União Europeia e uma visão comum do futuro da Europa”, disse, dirigindo-se ao também socialista François Hollande. “Só um país que é um grande amigo de Portugal, que tem uma identidade forte e um forte reconhecimento pelo contributo da comunidade portuguesa para o seu país poderia permitir que estrangeiros viessem aqui festejar o seu dia nacional”, sublinhou António Costa.

Nessa altura, já os chefes de Estado e do Governo dos dois países tinham estado reunidos no Palácio do Eliseu e falado sobre assuntos de Estado. Embora sem se referirem expressamente às sanções por défice excessivo que Portugal arrisca sofrer de Bruxelas, ficou implícito que a França se oporá a elas. “França tem uma grande comunidade portuguesa. Paris é como uma segunda capital de Portugal. Temos uma visão europeia sobre estado social, crescimento, emprego e refugiados e também temos a mesma visão sobre o papel da Europa. Portugal conta com o apoio da França para a ajudar Portugal nas questões económicas”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, após o encontro.

François Hollande foi no mesmo sentido: “Portugal é um país perfeitamente comprometido com o projecto europeu, tal como França, e devemos trabalhar juntos neste período de interrogações e inquietude. Trabalhamos juntos para que as relações culturais sejam reforçadas e as relações económicas devem ser intensificadas”. Ali mesmo, o presidente francês anunciou que visitará Portugal em Julho, após o Euro2016 e depois do Dia Nacional de França.

Já no Hotel de Ville, Hollande foi mais longe: “Senhor primeiro-ministro, o crescimento económico de Portugal é do interesse da França. As escolhas que vocês fizeram são escolhas que estão conforme as regras europeias e que são igualmente convergentes com as escolhas que nós fizemos em França. Devemos respeitar as regras, mas deve haver flexibilidade, para que Portugal, como a França, possam criar mais emprego e medidas de progresso social, ao mesmo tempo que saneiam as contas públicas, como vocês estão a fazer”, prosseguiu. Virando-se para Costa, concluiu: “Saiba que não tem só um parceiro no Conselho Europeu, mas um amigo, que é a França”.

Hollande falou também das preocupações comuns: “Partilhamos o mesmo projecto europeu. Quando um país se interroga sobre o futuro da União, mesmo que pensemos que o Reino Unido deva ficar na Europa, nós temos uma responsabilidade suplementar. (...) Numa altura em que muitos se interrogam o que é a Europa, a vossa presença aqui, mostra que somos em primeiro lugar europeus”, afirmou.

O facto de Marcelo Rebelo de Sousa ser o único não-socialista em palco não fez ruído e António Costa bem o assinalou: “A coabitação em Portugal faz-se de uma partilha de vontades, mesmo em todos os detalhes”, garantiu. Mas o Presidente português não queria falar de política.

Depois de ter feito metade do discurso em francês, no qual salientou os laços que unem os dois países e convidou Hollande a quebrar o protocolo e condecorar dois dos quatro heróis portugueses da noite dos atentados de Paris, Marcelo voltou à língua materna para falar às comunidades portuguesas, de que a sua família faz parte: “Todos os meus netos vivem fora do território físico de Portugal, hoje penso neles com emoção e no futuro deles”.

Lembrou as vagas de emigração para França nas décadas de 50, 60 e 70, feita “em situação de pobreza, para trabalhos duros”. “Aqueles que aqui estão são dos melhores de nós”, afirmou, acrescentando: “A França não esquece, mas Portugal ainda esquece menos”. Rematou numa mistura que ali nada tinha de invulgar: “Vive Paris, vive la France, viva Portugal”.

Os quatro gardiens receberam as suas medalhas da Ordem da Liberdade — Natália Syed, Margarida Santos Sousa e Manuela Gonçalves são agora Damas, José Gonçalves é Cavalheiro —, mas foi com os abraços e as palavras dos dois Presidentes que se emocionaram. “Não fizemos nada de especial, mas este momento, ter aqui o Presidente a dizer-nos o que nos disse, vir aqui fala dos emigrantes como falou, só isso para nós é magnífico”, reconhece José Gonçalves.

Ensino de Português na escola francesa para breve

O Presidente francês François Hollande comprometeu-se a “desenvolver o ensino do Português em França”, não apenas pela “relação excepcional entre França e Portugal” mas também porque “a comunidade lusófona são 250 milhões de falantes”.

As centenas e portugueses e luso-descendentes que o ouviam na Mairie de Paris aplaudiram-no nesse momento, pois essa é uma das grandes lacunas que sentem no país. E que pode estar prestes a ser colmatada. José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades, também presente nas cerimónias do 10 de Junho em Paris, não quis comprometer-se com prazos, mas afirmou aos jornalistas que esse é um assunto que está a ser intensamente tratado por uma comissão bilateral, onde estão representados os dois governos, através dos ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Educação, assim como pelo Instituto Camões.

“O facto de termos o Presidente da República de França a afirmar que a integração do português na estrutura curricular do sistema de ensino é um objectivo nacional revela a importância com que o tema está a ser tratado”, disse Carneiro, reforçando que se trata de “uma língua estratégica para a França, por ser a terceira língua mais falada no mundo e a primeira no hemisfério sul”. O assunto, revelou o secretário de Estado, foi uma das questões discutidas pelo primeiro-ministro com o seu homólogo francês e o eco que teve do chefe de Estado pode ser um prenúncio que o dossier pode ser fechado em breve, com a celebração de um acordo bilateral. Talvez mesmo na visita que o Presidente francês fará a Portugal em Julho, mas isso ninguém quer ainda garantir.

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