Parecia irrecuperável para a distribuição portuguesa, ele que entre os anos 1960 e 1980 foi um dos realizadores franceses mais populares no nosso país (o sucesso que foi Uns e os Outros, no princípio dos 80, com o Bolero de Ravel a ajudar...), mas ei-lo de volta: Claude Lelouch. E, parafraseando um dos seus títulos mais conhecidos (Aventura é Aventura), também podíamos dizer que Lelouch é Lelouch, e por mais que os anos passem continua a ser Lelouch, cultor de um cinema ligeirinho que nos melhores casos pode ser apenas descomplexado e desempoeirado mas nos piores - que são muitos - tem tendência a ser enjoativo no seu romantismo corriqueiro e simplista, com uma densidade de fotonovela.
E de fotonovelas nos lembramos nesta sua incursão pela Índia, onde tudo é decorativo e abundante em clichés sobre a “espiritualidade indiana” (é o The River de Lelouch, pensamos quando o par central se banha no Ganges, e imaginamos Renoir, lá do alto, a dar uma gargalhada), e tudo se resume a uma verborreica, muito verborreica, tragicomédia sentimental (que até no título parece rimar o famigerado Um Homem e uma Mulher, êxito maior de Lelouch), centrada no amor fugaz entre um compositor francês (Jean Dujardin) que vai à Índia trabalhar na banda musical de um filme de um cineasta indiano e a mulher (Elsa Zylberstein) do embaixador francês (Christophe Lambert, a milhas dos Highlanders de antanho, na única surpresa mais ou menos agradável deste filme). Os actores estão sempre à beira da histeria, numa incontinência verbal que os faz dizer um chorrilho de banalidades que está entre a caricatura e a “performance”, e comportam-se num registo “sempre em festa”, como se estivessem constantemente a piscar o olho ao espectador (sobretudo Jean Dujardin, facilmente um dos actores mais irritantes da actualidade) para garantir a sua cumplicidade. Cansa, cansa muito, e cansa muito depressa.