Pressionado por todo o lado, Estado Islâmico começa a sofrer na sua capital

Duas frentes opostas esmagam com uma velocidade surpreendente a resistência jihadista à volta da sua capital. Mas Alepo continua a ferro fogo e há notícias de que tudo pode piorar.

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Homem reage a um bombardeamento do regime sírio nos bairros rebeldes de Alepo. Baraa Al-Halabi/AFP

Pressionado em várias frentes, o grupo Estado Islâmico cede terreno a rápida velocidade à volta daquela que é teoricamente a sua capital e o grande centro jihadista na região: Raqqa. Por um lado, a Noroeste, combate a recém-formada aliança de curdos e árabes conhecida como SDF, que, desde que começou a operar com homens das forças especiais norte-americanas, se transformou numa força altamente eficaz. Por outro, no Sudoeste, enfrenta o Exército sírio e milícias leais ao regime e enviadas pelo Irão, que puseram recentemente os olhos no grande lago Assad e na maior barragem do país.

Em conjunto, mas não em aliança, as duas frentes procuram isolar os extremistas da sua última bolsa de terreno em contacto com a Turquia. Seria uma das mais importantes vitórias sobre o suposto califado, que dá mostras de não conseguir resistir a tantas frentes de combate na Síria e Iraque. 

Regime e rebeldes lançaram-se nas duas novas ofensivas na mesma quarta-feira da última semana — não há indicações de que tenham coordenado esforços, apesar de alguma especulação nesse sentido. As SDF avançaram com uma rapidez surpreendente, mas não no sentido que tinham anunciado em comunicado, directamente sobre o Norte de Raqqa, mas, aproveitando o logro, na direcção de Manbij, mais a oeste. Numa questão de poucos dias conquistaram uma série de aldeias ao longo do Eufrates, cruzaram o rio com pontes móveis manobradas pelas forças especiais americanas e este domingo estavam já a apenas cinco quilómetros da cidade. Tudo somado, anunciou um porta-voz do Comando Central dos EUA, as SDF conquistaram mais de cem quilómetros quadrados ao Estado Islâmico nos últimos dias.

Há alguns motivos que ajudam a compreender os avanços rápidos a noroeste de Raqqa. O número de militares americanos no seio das SDF aumentou consideravelmente desde que Obama anunciou que iria enviar mais 250 homens para combater o Estado Islâmico na Síria. Os bombardeamentos da coligação internacional tornaram-se mais precisos e frequentes desde então. O armamento das milícias aliadas também melhorou. Para além disso, as SDF avançam para Manbij sobretudo com milícias árabes. Segundo o comando americano, há 3000 combatentes árabes e apenas 500 milicianos curdos nos arredores da cidade, o que reduz o risco de tensões étnicas e, acima de tudo, acalmou os receios da presidência turca, que no passado se recusava a permitir que os curdos cruzassem sequer o Eufrates.

Os avanços do regime e milícias xiitas pelo Sul não foram tão rápidos, mas, no sábado, passados dias de bombardeamentos da aviação russa contra os extremistas, o Exército sírio anunciou ter chegado pela primeira vez à província de Raqqa desde que o Estado Islâmico a conquistou, em 2014.

O objectivo por enquanto não será avançar sobre a capital dos extremistas, ainda a dezenas de quilómetros de distância, mas sim a importante cidade de Tabqa e o grande lago Assad, onde se encontra a maior barragem do país. Tabqa funciona como elo de ligação entre Raqqa e os territórios controlados pelo Estado Islâmico em Alepo, onde este fim-de-semana os combates e bombardeamentos atingiram um pico de violência não visto desde as semanas que antecederam a cessação de hostilidades, definitivamente morta na maior cidade do país.

As imagens que chegam dos arredores de Manbij mostram dezenas de mulheres e crianças a celebrar a chegada das milícias árabes nas aldeias que já foram libertadas ao largo da cidade. Mas de Alepo o tom das notícias é diferente. A cidade esteve sob uma barragem particularmente violenta de ataques aéreos ao longo de todo o fim-de-semana, muitos dirigidos contra o troço de estrada que assegura que a cidade não é totalmente cercada pelas forças de Assad.

Entre bombardeamentos contra zonas rebeldes e rockets contra bairros controlados pelo regime, morreram quase cem civis só nos últimos três dias. Para além disso há notícias de que grupos rebeldes extremistas mobilizaram cerca de mil combatentes para uma contra-ofensiva ao regime e no domingo corriam rumores de que um jacto russo fora abatido nos arredores a sul da cidade.

“Só há civis aqui, não há rebeldes!”, gritava um homem ao correspondente da AFP em Alepo, num dos bairros mais atingidos no fim-de-semana, onde este domingo teriam morrido 23 pessoas. Ao seu lado, duas mulheres levavam uma criança ensanguentada para uma ambulância onde outra já recebia tratamento. 

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