Salvar “refeitórios” dos golfinhos do Sado com a ajuda de pescadoras

Árvores que carregam telemóveis e festival de jazz português itinerante ganham segundo e terceiros prémios de concurso de empreendedorismo social da Fundação Calouste Gulbenkian.

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A equipa do projecto, que integra duas mulheres pescadoras, recebeu o prémio das mãos do Presidente da República Paulo Maninha
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No estuário do Sado resistem actualmente 27 golfinhos Nélson Garrido

Um projecto em que caberá às pescadoras do estuário do Sado o envolvimento em iniciativas de sensibilização ambiental para ajudar a salvar as pradarias marítimas que servem de “refeitório” aos 27 golfinhos que ainda resistem no estuário do Sado ganhou o primeiro prémio da edição deste ano do FAZ – Ideias de Ideias de Origem Portuguesas, na área do empreendedorismo social, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian. A cerimónia de entrega dos prémios decorreu nesta sexta-feira.

Chamam-se pradarias marítimas “aos habitats marinhos constituídos por plantas aquáticas rizomatosas (parecidas com o lírio) que vivem em águas costeiras (até a uma profundidade de 30 metros)”, explicam as criadoras do projecto vencedor, que recebe uma verba de 25 mil euros para ser posto em prática. “A população de golfinhos (da espécie roaz) do estuário do Sado é uma das poucas populações residentes que vivem em estuários na Europa" e, para estes animais, "as pradarias marinhas são autênticos refeitórios”.

O projecto Guardiãs do Mar – Salvar o ambiente, preservar empregos dá conta da degradação destes habitats e do seu impacto tanto no declínio dos golfinhos como “no desemprego e desvalorização social e cultural das mulheres pescadoras”. Duas das pescadoras fazem, aliás, parte da equipa do projecto, que junta também uma bióloga marinha que segue a população de golfinhos do Sado há mais de 20 anos e uma portuguesa formada em Gestão, residente em Barcelona. Apenas podem concorrer equipas onde um dos elementos seja emigrante ou luso-descendente.

“No estuário do Sado, o homem e mulher partilham a lida da pesca a bordo e fazem-se ao mar”, explicam as autoras. Na margem Norte do estuário, no concelho de Setúbal, restam apenas dez mulheres pescadoras em idade activa. Apenas uma continua a pescar. Na margem Sul, em Tróia, nas povoações da Carrasqueira e da Comporta, são cerca de 35 as mulheres pescadoras activas. “O património cultural e sabedoria destas pescadoras, de mulheres, encontra-se em perigo de se perder, por não haver seguidoras”, lê-se.

A ideia não é “incentivar a continuidade da pesca”, já que “a maior parte dos stocks pesqueiros encontram-se sobreexplorados”. Propõem-se então criar “novas profissões” para as pescadoras, relacionadas com a protecção e sensibilização ambiental. O projecto não entra em pormenores, dizendo apenas que se trata “de criar oportunidades alternativas ao desemprego e complementares à pesca que se baseiam na experiência de vida das pescadoras para proteger as pradarias marinhas”.

Ao mesmo tempo, pretende-se monitorizar e proteger este habitat, aludindo-se aos seus riscos. “Um terço das pradarias marinhas do planeta já desapareceram e encontram-se em declínio a uma taxa de dois campos de futebol por hora”, lê-se na descrição.

Um estudo realizado por investigadores da Universidade do Algarve, citado pelas autoras, informa que um dos locais onde se observou um declínio acentuado foi na costa da Arrábida, na região do estuário do Sado. “Em 1946 existia um prado marinho a perder de vista, com uma área aproximada a 140 campos de futebol (70 hectares), mas, em 2003, restavam uns escassos 70 metros quadrados, a área de um pequeno apartamento (cinco hectares).”

A apanha de pescado com técnicas de pesca invasivas — como o arrasto de fundo, o ancinho de mão e a apanha com escafandro — partem as folhas e os rizomas. A poluição da água devido aos esgotos urbanos, industriais e dos estaleiros navais é outro dos problemas.

O projecto Vtree Solar, que pretende criar, em jardins e espaços públicos urbanos de grande circulação, “árvores” com wi-fi, alimentadas por painéis de energia solar fotovoltaica, ficou em segundo lugar nesta quinta edição do FAZ. Aí, a ideia é que qualquer pessoa possa carregar o seu telemóvel e outros gadgets nestes dispositivos. Um dos objectivos deste projecto, que recebe 15 mil euros, é democratizar o acesso à rede.

No Jazz’aqui, que recebe dez mil euros por ter alcançado o terceiro lugar, o jazz português é rei. A ideia é promover residências artísticas e criar um festival de jazz itinerante fora de Portugal, exclusivamente com músicos nacionais, entre outras iniciativas.

 

 

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