Os exames nacionais acabaram, mas os privados querem continuar a fazê-los

Projecto-piloto em 43 colégios avalia Português e Matemática nos 4.º e 6.º anos. Provas são feitas e avaliadas online e podem ser alargadas ao público.

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Alunos do 4.º ano do Colégio Planalto começam a fazer a prova de Matemática DR
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Português e Matemática foram testados com provas de avaliação externa DR

Entram em fila, de pólo bordeaux e calção cinzento. São todos rapazes. Os professores, do mesmo sexo que os alunos, também parece que usam uniforme, apenas a cor das riscas da camisa varia. Alguns estudantes vão à casa-de-banho lavar as mãos e passar o rosto por água, está calor e a brincadeira no recreio foi muita. Um docente acompanha-os, de maneira a apressá-los. Por fim, esperam a chamada para entrar nas duas salas de aula onde vão fazer uma prova de Matemática.

Assim como estes alunos do 4.º ano do Colégio Planalto, em Lisboa, outros da mesma idade, de 41 colégios espalhados pelo país, à mesma hora – 10h30, desta quinta-feira – submeteram-se a um projecto-piloto que pretende marcar o final de cada ciclo não com um exame, mas com uma prova igual para todos, de avaliação externa.

A ideia é da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (Aeep), que pediu ao Instituto de Avaliação Educacional (IAVE) para fazer uma prova. A proposta foi fazê-la, mas em moldes diferentes: online. E, por isso, a Aeep arranjou um parceiro tecnológico, a Hewlett Packard (HP). No futuro, esta ideia pode chegar às escolas públicas, revela Hélder de Sousa, presidente do IAVE. “A aplicação seria, numa primeira fase, às provas de aferição”, diz.

Com a decisão do actual Ministério da Educação de terminar com os exames nacionais no final de cada ciclo, alguns colégios sentiram a necessidade de manter uma avaliação porque as provas de aferição são em anos intermédios (3.º, 5.º e 8.º). Ou seja, os alunos que estão agora no projecto-piloto são do 4.º e 6.º ano e fizeram as provas de Português (na terça-feira) e de Matemática (quinta-feira).

“O interesse dos colégios é ter um olhar externo no final de cada ciclo”, explica António Sarmento, director do Colégio Planalto e responsável máximo da Aeep. Como muitos associados têm apenas um ou dois ciclos, gostariam de perceber como se comportam os seus alunos no final. Os exames permitiam-lhes ter essa visão, com o seu término, surgiu-lhes esta solução, explica.

Trata-se de um “olhar externo” porque os testes são feitos pelo IAVE. E são “provas não públicas”, ou seja, as perguntas não são conhecidas, nem serão divulgadas no final como acontece com as provas de aferição e exames nacionais, o que significa que ninguém sabe o que é perguntado e as mesmas questões podem sair em anos seguidos, de maneira a que exista um “instrumento fiável para comparar a evolução dos alunos ao longo dos anos”, explica Hélder de Sousa. O mesmo acontece com as provas internacionais da OCDE em que os alunos portugueses participam, como o TIMMS (que avalia os alunos do 4.º e 8.º anos a Matemática e Ciências) e o PIRLS (que analisa a leitura do 4.º ano), reforça.

Prova no computador

Tal como acontece com as provas de aferição e os exames nacionais, os alunos são chamados, entram, sentam-se em carteiras separadas. À sua frente não têm um enunciado, mas um computador portátil, uma folha branca e um lápis. Alguns trouxeram borracha. Numa sala, os estudantes têm portáteis novos; na outra têm os antigos que já existiam na escola, uma cooperativa de pais ligada à Opus Dei que promove o ensino diferenciado, ou seja, rapazes aprendem com professores e raparigas com professoras.

As escolas que participam neste projecto compraram 200 computadores porque o compromisso é que este seja realizado nos próximos três anos. Depois poderá ser estendido a nível nacional ao ensino particular e cooperativo, informa Rodrigo Queiroz e Melo, director-executivo da Aeep. Hélder de Sousa vai mais longe e deseja não ter de esperar pelo final deste projecto para começar a aplicar a nível nacional. Pode começar pelas provas de aferição e num ano fazer metade em papel e a outra metade online ou fazer só numa região do país, sugere.

Porquê? Porque são “mais baratas”, uma vez que não se usa papel, mas o computador, e porque se podem usar as mesmas perguntas de um banco de itens, ou seja, não é preciso pagar anualmente a equipas para fazerem novas provas, explica o presidente do IAVE. Também não é preciso pagar para levar e buscar as provas às escolas, assim como não se pagam as deslocações dos classificadores.

"Mais fáceis de classificar"

São “mais fáceis de classificar” porque a avaliação também é feita online por classificadores sob a supervisão do IAVE. Os professores em vez de classificarem a prova toda - como fazem com as tradicionais - podem ser indicados pelo IAVE para classificar a mesma questão em todos os exames. “O critério é mais estável”, justifica Hélder de Sousa.

Por isso, são também “mais fiáveis” já que os itens podem ser testados, acrescenta Queiroz e Melo. Aliás, haverá uma parte da prova que é classificada automaticamente e só metade será avaliada por classificadores. O programa permite que os alunos saibam de imediato se acertaram ou não. No entanto, essa opção não foi introduzida para não os perturbar no decorrer da prova. Assim, só no início do próximo ano lectivo saberão o resultado final.

Para já, só cerca de 2500 estudantes fizeram as provas online. Futuramente poderão ser estendidas ao ensino público. Hélder de Sousa diz que há receptividade por parte desta equipa ministerial. “Seria muito mau se não fossem alargadas ao público”, defende. Contudo, reconhece que é preciso um investimento inicial em equipamento, mas, depois de feito, a poupança em papel e em custos inerentes à realização e correcção de provas impressas será superior, acredita, embora reconheça que “é preciso capacidade financeira para equipar as escolas”.

O Ministério da Educação tem conhecimento desta experiência-piloto e vai acompanhá-la. No entanto salvaguarda que esta “não se confunde com qualquer instrumento de avaliação externa previsto legalmente”, informa a tutela.

Numa das salas do Planalto, antes de começarem, o professor Cláudio explica aos alunos que têm uma hora e meia a partir do momento em que começarem a escrever no computador e que existe uma "bandeira vermelha" para as perguntas que deixam por responder, de maneira a que possam lá voltar quando quiserem. Os meninos prepararam-se anteriormente. Embora estejam habituados ao computador, nem sempre estão acostumados a escrever nele. Por isso, tiveram como trabalho de casa a escrita para conhecerem melhor o teclado, explica o professor Miguel.

E ali estão eles, a carregar nas teclas com alguma destreza para escreverem o seu nome completo, o código que está escrito no quadro a giz, a turma a que pertencem e o nome da escola. Depois, surge uma página com a explicação de como fazer o teste – no final de cada resposta devem “submeter” a mesma, para ficar guardada. E a prova começa. As perguntas que surgem nos ecrãs até podem ser as mesmas, mas as respostas não. São múltiplas e podem não coincidir. Por isso, não vale a pena pedir ao colega do lado para copiar. Nem os professores o deixariam.

No futuro, estas provas podem ser adaptive testing: à medida que o aluno vai respondendo (dependendo da rapidez e da correcção da resposta), as perguntas vão variando. “Funciona como um jogo por níveis”, resume Hélder de Sousa, o que permite perceber o que sabe cada um dos alunos. A novidade destas provas é que podem ser avaliadas de forma quantitativa (e as escolas podem comparar as classificações internas ao longo dos anos e a nível nacional podem ser feitos rankings), mas também qualitativa (de forma semelhante às provas de aferição e perceber o que sabem os alunos).

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