Activista agredido após invadir a arena do Campo Pequeno
Apesar da invasão pacífica protagonizada pelo holandês Peter Janssen, a noite ficou marcada pela reacção violenta de alguns espectadores que assistiam à corrida de touros.
Peter Janssen invadiu na noite desta quinta-feira a arena do Campo Pequeno, em Lisboa, enquanto decorria uma corrida de touros. A Grande Corridas Vidas/Correio da Manhã foi interrompida por momentos quando o activista saltou para a arena, em tronco nu, exibindo no peito a mensagem "Basta de tortura" e nas costas "Respect for animals". O episódio aconteceu por volta das 23h, no período de intervalo. O activista holandês foi detido, tendo depois sido libertado, confirmou a PSP ao PÚBLICO.
“Ele estaria a ser empurrado e aparentemente a ser alvo de agressões por um grupo de pessoas que se encontrava ali”, confirmou ao PÚBLICO o intendente Hugo Palma, da PSP. “Quando os agentes policiais chegaram ao local, tentaram protegê-lo”, mas a polícia não conseguir identificar os alegados agressores.
A promotora do evento apresentou queixa contra Janssen, o que levou à sua detenção pela PSP de Lisboa. O activista de 31 anos foi de seguida libertado, sob notificação, e acompanhado pelas autoridades ao Hospital de Santa Maria, onde deu entrada cerca das 00h30. Segundo a PSP, Janssen apresentava “pequenas escoriações e hematomas” fruto das agressões.
O Vegan Strike Group, grupo ao qual Janssen pertence, informou na sua página do Facebook que o activista passou a noite no hospital, onde realizou uma TAC e radiografias. “Pouco depois, saiu do hospital e foi conduzido pela PSP às salas de detenção do Comando de Lisboa”, confirmou Hugo Palma.
“Vai-te embora, ó palhaço”
Vários cidadãos presentes na noite desta quinta-feira na corrida ou no exterior da praça de touros denunciaram a violência de que foi alvo o holandês, alegadamente por parte de aficionados e apoiantes da tradição tauromáquica. Janssen terá sido agredido à saída da arena por várias pessoas descontentes com a sua entrada no recinto, havendo relatos de ofensas físicas — murros e pontapés — e vários insultos. Num vídeo gravado por espectadores, ouve-se por diversas vezes a frase “vai-te embora, ó palhaço”. O activista a saiu da arena acompanhado, segundo a PSP, por dois agentes.
Apesar das denúncias de várias testemunhas de que as agressões foram feitas frente às forças políticas, Hugo Palma garante que tudo foi feito para proteger o activista.
À semelhança do que já fez noutras praças de touros em vários países, Peter Janssen aproveitou o evento tauromáquico para se manifestar com uma invasão pacífica em defesa dos direitos dos animais e pedir o fim das touradas. Na semana passada, a 27 de Maio, o activista invadiu desta mesma forma a praça de touros de Córdoba, em Espanha. O holandês pertence ao Vegan Strike Group, um grupo de pressão em prol dos direitos dos animais e conhecido por protestos como o de Lisboa, embora esta tenha sido a primeira vez que actuaram em Portugal.
O grupo Vegan Strike Group condenou as agressões, que diz terem vindo de pessoas que admiram um espectáculo “sádico e sedento de sangue”. No evento participaram os cavaleiros Pablo Hermoso de Mendoza, João Moura Júnior e Lea Vicens, ao lado de grupos de forcados amadores de Coruche e Alcochete.
Este incidente aconteceu no mesmo dia em que o Parlamento português chumbou as propostas do PAN, Bloco de Esquerda e Os Verdes para proibir a participação de menores em touradas e permitir que apenas possam ser toureiros quem tem a escolaridade mínima obrigatória. Os diplomas foram chumbados pelas bancadas parlamentares do PSD, CDS, PCP e pela maioria dos deputados do PS.
Já para este sábado está marcada uma nova manifestação dos activistas anti-touradas junto ao Campo Pequeno. A Marcha pela Abolição dos Matadouros realiza-se pela primeira vez na capital portuguesa depois de ter passado por várias cidades, entre elas Paris, Berlim e Deli. Para antecipar a marcha, o Movimento de Abolição de Matadouros Portugal organizou 30 iniciativas em cinco cidades portuguesas — Almada, Braga, Coimbra, Lisboa e Porto —, que terminam nesta sexta-feira, em Gaia, com um jantar popular vegan e a exibição do documentário Live and Let Live, de Marc Pierschel.