Netanyahu, Einstein e a iniciativa francesa
Em 1996, Netanyahu foi eleito, pela primeira vez, Primeiro-Ministro de Israel como resultado de um manifesto que promete destruir os acordos de Oslo, de acordo com declarações do próprio no seu livro de 1993 Lugar ao Sol.
Netanyahu foi, até agora, eleito quatro vezes, porque domina a arte de assustar o seu próprio povo, criando inimigos para se manter a si e ao seu povo num estado de guerra permanente, e desta forma leva a que, neste momento, muitos israelitas até acreditem que todos os não-judeus são inimigos. Os media israelitas chegaram à conclusão de que o assassínio do visionário político de Israel, o falecido Primeiro-Ministro Rabin, foi um acto de provocação pela linguagem anti paz de Netanyahu e dos seus semelhantes na ala direita.
Todos os que assistiram às últimas eleições israelitas, em Março de 2015, ainda se lembram de que Netanyahu foi eleito em última instância pelo manifesto do grande NÃO ao Estado da Palestina enquanto ele estiver a governar. Esta negação do direito palestiniano a um Estado, como desafio absoluto de todas as leis criadas pela humanidade, tem sido e ainda é um objetivo primordial para Netanyahu em toda a sua vida política. Uma negação que se aproveitou devidamente das negociações como uma cortina de fumo para a expansão territorial e a construção de colonatos ilegais nos territórios palestinianos roubados.
Quando o amigo do falecido Arafat, o Ex-Presidente francês Jacques Chirac visitou a Terra Santa em 1996, o então Primeiro-Ministro, Netanyahu, pediu às equipes de negociação israelitas e palestinianas para retomarem as negociações. Estas equipes foram para o hotel, foram postas em quartos separados, e depois, foram enviadas para casa sem trocarem uma palavra sequer, no mesmo dia em que Chirac terminou a sua visita.
Este estilo de Netanyahu é reconhecido por todos os seus colegas em Israel, entre eles o Ex-Primeiro-Ministro Sharon, que uma vez disse a Netanyahu "um mentiroso foste e um mentiroso permanecerás".
Ironicamente, os políticos de todo o mundo estão habituados a fazer ouvidos moucos e olhos cegos às mentiras e alegações de Netanyahu, por diferentes razões, mas principalmente com base na percepção destes da própria política: "a arte do possível inclui mentiras ".
Por estes dias, temos na mesa política internacional uma iniciativa francesa séria, nascida do ventre da responsabilidade e da crença de que já bastam sete décadas de sofrimento dos palestinianos, vítimas da criação de Israel em 1948.
Acrescendo a isto, o facto de que as repercussões prejudiciais desta injustiça histórica, infligida aos palestinianos, criaram um estado de instabilidade e um ambiente próspero para o terrorismo na região e fora dela.
Ao convidar todos os actores influentes do teatro político mundial, a iniciativa francesa oferece uma cooperação criativa capaz de encontrar uma solução para acabar favoravelmente com o conflito israelo-palestiniano com base na Lei Internacional.
Com o seu famoso estilo de utilizar truques, o apelo de Netanyahu nestes últimos dias para conversações bilaterais, na tentativa de frustrar, propositadamente, a iniciativa francesa, deve ser um motivo de alarme para todos os políticos decentes do mundo, em particular aqueles que estarão reunidos em Paris no dia 3 de Junho e, portanto, deverão ignorá-lo.
Só nos últimos seis meses, mais de 300 crianças palestinianas foram mortas e mais de 1500 foram presas e torturadas nas mãos das forças de ocupação israelita. A iniciativa francesa, com base no Direito Internacional Humanitário, é uma ferramenta urgentemente necessária para convencer os residentes da Terra Santa, os palestinianos e os israelitas que pedem vingança, de que a lei do olho por olho vai deixar ambos cegos (Gandhi). Esta iniciativa é uma ferramenta ideológica não-violenta urgentemente necessária, também, para dizer a todos os terroristas no mundo que não há ninguém acima da lei, sejam eles indivíduos, facções ou estados, e que todos nós prestamos contas e cumprimos a lei da mesma forma.
Finalmente, reitero que o recente apelo de Netanyahu às negociações bilaterais, que decorre da sua natureza camuflada para contrariar a iniciativa francesa, é consistente com a lei da insanidade de Einstein: “continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar um resultado diferente."
Embaixador da Palestina