Preço da sardinha é o mais elevado dos últimos 20 anos

Em 2015, as limitações à captura de sardinha fizeram aumentar as importações e levaram à quantidade pescada mais baixa desde que há registos estatísticos. Este ano, há sinais de recuperação da espécie.

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Sardinha está mais cara Ricardo Silva

As lotas nacionais nunca tiveram tão pouca sardinha para vender e a que têm está a ser transaccionada ao preço mais alto dos últimos 20 anos. Os dados do INE relativos a 2015 espelham as consequências dos limites impostos à captura desta espécie (a sardina pilchardus) que vigoram desde 1 de Março de 2015 e terminam a 31 Julho deste ano. As quotas, de 6800 toneladas, são uma medida de preservação da sardinha e são decididas por despacho governamental.

Num país que, no mês de Junho, consome 13 sardinhas por segundo (e já consumiu mais), isto significa que o preço deste peixe deverá atingir máximos históricos no seu maior pico de vendas, a época dos santos populares. Em 2015 foram transaccionadas 13.729 toneladas de sardinha, a quantidade mais baixa desde que há registos estatísticos por espécie. De acordo com o INE, entre 1995 e 2015 as descargas variaram a um ritmo médio anual de -8,5%. Olhando para os últimos quatro anos, verifica-se que a quantidade média pescada, na ordem das 22 mil toneladas, foi 65,6% inferior à média descarregada no período anterior (64 mil entre 2005 e 2011).

Quando a quantidade é pouca e a procura é muita, a lei de mercado impera e o preço dispara. O instituto de estatística adianta que o preço médio da sardinha negociada nas lotas nacionais chegou aos 2,19 euros o quilo, o mais elevado dos últimos 20 anos. Em 1995, o valor negociado era de 0,31 euros por quilo. Nos últimos quatro anos, o preço médio quase triplicou face ao valor médio registado entre 1995 e 2011.

Em 2016 a tendência mantém-se. Outra análise recente do INE indica que, em Março, a captura de sardinha caiu 98,7%. Neste mês chegaram às lotas apenas seis toneladas desta espécie, uma vez mais na sequência do despacho governamental que definiu os limites para a pesca pela arte do cerco na costa continental. Em Maio de 2015, o valor descarregado foi de 447 toneladas.

Humberto Jorge, presidente da Anopcerco, a Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco, alerta que qualquer comparação tem de ser feita à luz das paragens da frota pesqueira. O ano passado, os barcos não saíram entre Janeiro e Abril e, depois, entre Setembro e Dezembro. Foram, por isso, “meses atípicos”. Como as capturas ocorreram nos meses mais fortes em termos de consumo, “o preço médio é superior”, tendo em conta que a sardinha “é muito valorizada no verão”. “São consequências das restrições impostas e que nos obrigaram a reduzir drasticamente a oferta em lota”, disse.

Os dados mais recentes que chegam à Anopcerco revelam que “apesar das restrições”, que incluem um dia de proibição às quartas-feiras no mês de Maio, “estamos a chegar a níveis semelhantes aos do ano passado e até superiores. Revela que há alguma abundância do recurso na costa portuguesa”, sublinha.

Em Julho haverá revisão dos limites à pesca e a Anopcerco espera que os pescadores tenham como tecto o mesmo valor do ano passado”, uma vez que o “recurso está em recuperação”.

No ano passado, além da descida da quantidade pescada e do aumento do preço, os limites à pesca da sardinha tiveram outros efeitos. Por um lado, os pescadores foram obrigados a substituir esta espécie por outras. Por outro, as importações dispararam, superando mesmo o volume de sardinha pescada por operadores nacionais.

O carapau e a cavala foram as alternativas mais comuns. E se em 2015 a frota de pesca nacional conseguiu aumentar o valor global pescado (de 119,9 mil toneladas em 2014 para 140,8 toneladas), muito se deve a estas duas espécies. A cavala, aliás, foi o peixe mais pescado em Portugal em 2015 e pesou 33% no volume total de capturas de pescado fresco ou refrigerado. Já o carapau – que também tem quotas, mas ainda longe de se esgotarem – aumentou em 33,7% o volume de capturas.

Em Maio deste ano, a tendência também se manteve: a quantidade pescada de carapau cresceu 15,2%, a dos tunídeos 51,8% e as pescadas16%.

Quanto ao preço, carapau e cavala são incapazes de competir com a sardinha. O valor praticado à descarga foi, em média, de 1,01 euros o quilo no caso do carapau, menos de metade da sardinha, e tem vindo a cair ao longo dos últimos quatro anos. O INE realça que os dados (uma quebra de 4,4% face a 2014, por exemplo), parecem “indicar que esta espécie não está a revelar-se como uma real alternativa à sardinha”. Já a cavala registou um aumento do preço médio de 2,3% em comparação com 2014 mas o seu valor na lota não foi além dos 28 cêntimos por quilo, ou seja, 7,9 vezes abaixo do preço atingido pela sardinha.

As consequências dos limites à captura foram “igualmente evidentes” no comércio internacional. A quantidade de sardinha importada, quer fresca, quer congelada, aumentou a um ritmo médio anual de 11,6% entre 2010 e 2015. Em termos de valor, o crescimento foi de 15,9%. No ano passado, Portugal gastou 35,5 milhões de euros com compras de sardinha ao estrangeiro (sobretudo a Espanha e Marrocos) e “a quantidade de sardinha importada foi quase o dobro da sardinha capturada e descarregada nos portos do continente”.

Nas exportações, as conservas perderam o pódio de produto de pesca mais vendido nos mercados internacionais e foram ultrapassados pelos peixes congelados.

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