Lanthimos permite ao espectador instalar-se no seu universo surreal

Lanthimos sabe usar a seu favor o elenco de luxo que reuniu para este seu primeiro filme em inglês, e permite ao espectador instalar-se no seu universo estranho e surreal.

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Dentro desta “nova vaga” do cinema g.rego, confessamos preferir a Athina Rachel Tsangari de Attenberg e Chevalier aos abstractos opacos de Yorgos Lanthimos, cujo Canino (2009) deu contudo o “tiro de partida” para a visibilidade internacional da produção helénica. Dito isto, o absurdismo hiper-controlado e misteriosamente tocante de A Lagosta apanhou-nos de surpresa, em grande parte devido à lógica surreal, levada a um extremo de coerência, da sua distopia retro, que remete para a ficção científica pós-apocalíptica do cinema dos anos 1970 (algures entre À Beira do Fim e o THX-1138 de Lucas).

História de um homem normal entalado entre a espada e a parede num futuro orwelliano onde as relações sentimentais são rigidamente controladas, e da sua descoberta do amor como libertação e prisão em simultâneo, A Lagosta mexe-se sempre na corda bamba entre a tese e a antítese, entre a teoria e a prática. Mas Lanthimos sabe usar a seu favor o elenco de luxo que reuniu para este seu primeiro filme em inglês, e evita a rigidez programática da alegoria através da paciência com que permite ao espectador instalar-se no seu universo estranho e surreal. 

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