Robin Wright e Kevin Spacey já eram co-protagonistas, agora também têm salário igual
Depois de perceber que a personagem de Claire Underwood era tão importante como a de Frank em House of Cards, a actriz exigiu receber o mesmo que o parceiro.
Robin Wright, a actriz norte-americana que partilha o ecrã com Kevin Spacey na famosa série de televisão House of Cards, só conseguiu aumentar o seu salário porque ameaçou a produtora da série de que iria a público falar sobre a desigualdade dos salários entre homens e mulheres, exigindo que o seu salário fosse igual ao do co-protagonista. A revelação surgiu esta terça-feira, durante uma conferência na Fundação Rockefeller, escreve o New York Times, numa conversa entre líderes e activistas.
A polémica não está isolada. Em 2014, um ataque informático à Sony Pictures revelou, entre outros dados, uma extensa lista de actrizes que recebem menos do que os seus actores com quem trabalham.
No mesmo ano, Kevin Spacey, o actor que interpreta Frank Underwood, ganhava 500 mil dólares por episódio (cerca de 443 mil euros ao câmbio actual), classificando-o como um dos actores mais bem pagos em televisão. Um valor que entretanto terá aumentado. No entanto, em 2015, escrevia a Forbes, a Robin Wright ganhava cerca de 420 mil dólares por episódio (cerca de 372 mil euros). Contas feitas, Wright ganhava menos 80 mil dólares por episódio. Menos 71 mil euros, se compararmos ao valor com que Spacey era pago por cada episódio em 2014. Uma rápida consulta ao IMDb permite confirmar que, entre 2013 e 2016, os dois protagonistas apareceram exactamente o mesmo número de vezes na série: 52 episódios.
Para Wright, esta desigualdade tratava-se de "um perfeito paradigma", uma vez que são poucas as séries e filmes em que "o patriarca e a matriarca são iguais", e isso acontece justamente em House of Cards, aponta a actriz.
"Olhei para algumas estatísticas e a personagem de Claire Underwood era mais popular que o Frank durante um período de tempo. Por isso, capitalizei o momento. E disse: ou me pagam, ou irei a público. E eles pagaram", cita o Huffington Post.
Durante a cerimónia dos Óscares de 2015, Patricia Arquette aproveitou o discurso de agradecimento ao prémio de melhor actriz secundária para falar sobre a desigualdade de rendimentos, levando a um aplauso efusivo de muitas das actrizes que compunham a plateia do Dolby Theatre, em Los Angeles. O discurso relançou o tema, mas, segundo a actriz, custou-lhe algumas oportunidades de trabalho em Hollywood.
No final de 2015, também Jennifer Lawrance, umas das actrizes que viu o seu nome na lista de actrizes que receberam menos do que os protagonistas masculinos, falou sobre o assunto. A actriz confessa ter ficado “furiosa”, não com a Sony, mas com ela própria, lamentando ter fechado negócio da sua participação em Golpada Americana “sem uma negociação a sério”.
Mas, se até Meryl Streep se queixa do tratamento diferente que tem no final do mês, outras actrizes garantem que ganham tanto como os actores com quem trabalham. Pelo menos é o que garante Scarlett Johansson, numa entrevista à Cosmopolitan deste mês. A "Viúva Negra" da Marvel afasta essa discussão da sua esfera pessoal para uma “conversa maior sobre o feminismo no geral”.
São vários os relatórios que ainda apontam preocupações às persistentes diferenças dos salários de homens e mulheres. Um deles é avançado pela consultora global de gestão Korn Ferry Hay Group, citada pela Economist. Segundo a empresa, em média, as mulheres recebem menos 18% do que os seus colegas de sexo masculino, no desempenho de funções semelhantes. As desigualdades são transversais a países e às mais variadas profissões.