Trump e o establishment acabam primeiro encontro com promessas mas sem beijinhos
O mais do que provável candidato do Partido Republicano à Casa Branca e o líder da Câmara dos Representantes tentam enterrar o machado de guerra para se concentrarem no Partido Democrata. Primeira reunião acabou com promessas de mais reuniões.
Donald Trump e Paul Ryan são os dois nomes mais importantes do Partido Republicano nos dias que correm, mas não há meio de darem as mãos para começaram a caminhada em direcção a um objectivo comum: impedir que o Partido Democrata continue na Casa Branca por pelo menos mais quatro anos.
Esta quinta-feira, o mais do que provável candidato do Partido Republicano às eleições presidenciais nos EUA e o líder da Câmara dos Representantes tiveram um primeiro encontro demorado, cara a cara, depois de uma breve troca de olhares em 2012, durante a campanha em que Ryan concorreu ao lado de Mitt Romney como candidato a vice-presidente e perdeu para a dupla Barack Obama/Joe Biden.
Desde então, Paul Ryan tem tentando cimentar uma imagem de Ronald Reagan versão pós-Obama, com uma postura descontraída e uma mensagem de esperança, neste caso nos valores que estão no coração dos conservadores mais tradicionais – a necessidade do envolvimento do país em conflitos internacionais e uma visão estritamente conservadora em termos sociais, mas também uma abertura a acordos com o Partido Democrata no Congresso e a defesa de uma reforma da imigração que inclua um caminho para a cidadania norte-americana. Por outras palavras, precisamente o contrário de tudo o que Donald Trump tem defendido, e que lhe valeu o apoio das bases do partido durante as primárias.
O magnata já afastou os 16 adversários que teve pela frente para ser o nomeado do Partido Republicano, mostrando que é muito popular entre as bases do partido, mas o caso muda de figura assim que se vai subindo na hierarquia.
Alguns senadores, membros da Câmara dos Representantes, governadores e históricos do partido só agora começam a ceder, com bastante relutância, e admitem que vão apoiar o magnata nas eleições gerais; outros, como Paul Ryan, dizem que precisam de ser convencidos por Trump de que o seu tom, por vezes raivoso, e as suas propostas, por vezes xenófobas e racistas, vão desaparecer da campanha; outros ainda, como o senador da Carolina do Sul, Lindsey Graham, dizem que nem mortos votariam no candidato que os eleitores do seu partido lhe puseram no prato este ano.
Partido Republicano faz de exorcista para livrar Donald do seu trumpismo
A guerra civil no interior do Partido Republicano, a menos de seis meses das eleições gerais, agravou-se ainda mais na semana passada, quando Paul Ryan anunciou publicamente que ainda não estava pronto para apoiar o candidato oficial do seu partido (apesar de as primárias ainda não terem terminado, Donald Trump já não tem adversários e deverá conquistar facilmente os 1237 delegados necessários para ser confirmado como candidato oficial na convenção do partido, em Julho).
Na resposta, Trump conseguiu controlar-se e deixou de lado os ataques pessoais com que tem presenteado muitos dos que se atravessaram no seu caminho, mas ainda assim deixou claro que não seria Ryan quem o iria travar: "Não estou preparado para apoiar a agenda do speaker Ryan."
"Talvez no futuro possamos trabalhar em conjunto e chegar a um acordo sobre o que é melhor para os americanos. Eles foram tão maltratados durante tanto tempo que é hora de os políticos os colocarem em primeiro lugar", disse Trump.
Aproveitando o tom extremamente diplomático da resposta para os padrões do magnata, o presidente do partido, Reince Priebus, não perdeu tempo e marcou uma reunião entre os dois rivais para esta quinta-feira, na capital federal dos EUA.
O objectivo, como seria de esperar tendo em conta o fosso que existe entre os dois, era promover um primeiro encontro sem muitas expectativas; uma reunião de 45 minutos para se conhecerem melhor, como explicou Paul Ryan no final, durante uma conferência de imprensa.
Mas a presença de muitos jornalistas e muitos manifestantes anti-Trump à porta da sede da Comissão Nacional Republicana dava a entender que a coisa poderia ficar logo ali arrumada: Ryan recuava e manifestava o seu apoio a Trump; o Partido Republicano voltava a unir-se como que por magia após um desgastante e violento processo de eleições primárias; e os dois saíam de mãos dadas e com os punhos cerrados apontados a Hillary Clinton ou Bernie Sanders.
My most important meeting of the day. pic.twitter.com/pnhIRkLPq6
— Paul Ryan (@SpeakerRyan) May 12, 2016
Mas no final do encontro, num comunicado conjunto e na conferência de imprensa de Paul Ryan, ficou provado que a união do Partido Republicano à volta do seu mais do que provável candidato ainda está tão longe como o pote de ouro atrás do arco-íris.
"Apesar de termos discutido as nossas divergências com honestidade, percebemos que há também áreas importantes em que concordamos. Vamos ter mais encontros, mas continuamos a acreditar que há uma grande oportunidade para unir o nosso partido e ganhar este Outono, e estamos totalmente comprometidos a trabalhar em conjunto para alcançar esse objectivo", disseram Trump e Ryan. Por outras palavras, o mais alto representante do Partido Republicano num cargo eleito continua sem apoiar o mais do que provável candidato do seu partido à Casa Branca.
Great day in D.C. with @SpeakerRyan and Republican leadership. Things working out really well! #Trump2016 pic.twitter.com/hfHY9MdAc7
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) May 12, 2016
Para além das diferenças políticas – o conservadorismo mais tradicional de Ryan contra o populismo de Trump –, o líder da Câmara dos Representantes está entalado entre dois objectivos pessoais: por um lado, não apoiar o candidato oficial pode valer-lhe a não reeleição como speaker da Câmara dos Representantes pelos seus pares; por outro lado, apoiar Donald Trump e ficar colado ao extremismo do candidato pode prejudicar as suas próprias aspirações a concorrer à Casa Branca em 2020.
E o receio que muitos líderes do Partido Republicano têm de que Trump seja derrotado em Novembro só agrava a situação – se esse cenário se confirmar, os 23 senadores do Partido Republicano que vão surgir no mesmo dia nos boletins de voto podem ser penalizados e o partido pode perder a maioria que tem no Senado. Num cenário ainda mais catastrófico, o partido pode também ver a sua maioria na Câmara dos Representantes reduzida de forma significativa, e ainda por cima com mais membros anti-establishment, o que tornará a liderança de Paul Ryan num verdadeiro inferno. Por outras palavras, esta não é uma boa altura para se ser Paul Ryan.