João Pires, guitarrista português: “O Brasil abriu-me as portas para o mundo”

Lisboando, o terceiro disco de João Pires, continua o seu périplo nacional: esta quinta-feira é apresentado ao vivo no Porto, no Passos Manuel. Dia 14 será a vez de Coimbra.

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Lisboando resultou de um projecto de crowdfunding que superou “bastante” as expectativas PATRÍCIA MARTINS

Nos seus irrequietos 34 anos, João Pires faz jus à sua fama de músico nómada. Viajado, dividido entre Portugal, o Brasil e Cabo Verde, o seu mais recente disco tem o embalo de várias sonoridades e a participação de nomes como Aline Frazão, Pedro Moutinho, Dino D’Santiago, Cristina Águas, João Frade, Marcos Suzano, Miroca Paris, Ivo Costa, entre outros. Chama-se Lisboando, numa referência ao lugar onde essas músicas se cruzam e também à cidade onde ele nasceu, em 5 de Novembro de 1981. Ao vivo, o disco já foi apresentado no Museu do Fado (que lhe empresta a chancela, lado a lado com a da editora, a Uguru) ou em Cascais. Esta quinta-feira chega ao Porto, ao Passos Manuel (22h) e dia 14 a Coimbra, no Salão Brazil (22h).

Como começou a aventura de João Pires? Pelas viagens. Os pais estão ambos ligados ao sector dos transportes (a mãe trabalha na TAP e o pai numa empresa de logística) e isso incutiu nele o gosto por viajar. A música chegou-lhe também por via familiar (a família é da Beira Alta) mas sem vínculos profissionais, só por gosto. Em casa, o avô cantava o fado e ouvia-se muita música: “Portuguesa, brasileira, jazz, muita música cabo-verdiana.” Porque em 1985-86 foram a Cabo Verde, de visita, e depois voltaram sempre, anos a fio. Foi uma atracção que dura até hoje.

“Comecei a tocar viola muito cedo, aos 6 anos, por influência do meu pai. Um dia escreveu-me num caderno umas posições para uns acordes, mas eu já tinha propensão para tocar de ouvido.” Aos 11, 12 anos, começou a frequentar uma escola de música. “Comecei por estudar violino e depois passei para a viola clássica. Levei aquilo a sério, mas não era disciplinado. Trazia para casas peças, Bach, etc., mas se ficava meia hora naquilo punha-me a inventar.” Na adolescência, seguiu outros rumos. “Era um adolescente de Carnaxide, do subúrbio, com aquela coisa das bandas de garagem, o rock, então já a compor. Mas sempre gostei imenso de música popular portuguesa, da MPB, de jazz.”

Crowdfunding, o futuro

O contacto mais directo com outras músicas faz-se quando ele vai estudar para o ISPA, em Alfama. E os laços com o Brasil surgiram em 2008, na Womex, em Sevilha. “Conheci lá dois músicos de Belo Horizonte, que me convidaram para ir produzir um trabalho musical no Brasil. Quatro meses. Fiquei lá seis anos. Mas a viajar muito. O Brasil abriu-me as portas para o mundo. Foi lá que eu comecei a tocar imenso e foi lá que lancei os meus primeiros dois discos, Caminhar e Coladera.”

De início, ficou-se por Belo Horizonte, mas depois começou a ir muito para São Paulo. E chegou ao Rio de Janeiro, onde acabou por gravar o seu segundo disco, Coladera, com o genial percussionista brasileiro Marcos Suzano. Tocou, produziu discos, assentou. “Tenho lá casa, família, filho.” Mas continua a circular pelo mundo, com Portugal sempre na agenda. O seu terceiro disco, Lisboando, resultou de um projecto de crowdfunding que superou “bastante” as expectativas. “De alguma forma respondeu a um feeling que eu tinha. Ou se é mainstream e as editoras ainda arriscam, ou este é o futuro.”

João Pires começara, há dois anos, a fazer concertos em Portugal com o grupo com o qual depois gravou: Diogo Duque, trompete; Francesco Valente, baixo; Marcos Pombinho, piano; Poliana Tuchia, percussões; e Sebastian Sheriff, bateria. Depois o B.Leza convidou-o, em Dezembro de 2014, para tocar todas as quartas-feiras lá, e isso empurrou-o para o disco. “De repente estávamos já a trabalhar nestas músicas.” Há várias composições só dele, outras com música dele e letras de Aline Frazão, Amélia Muge, Ana Sofia Paiva, Dino D’Santiago e Vinicius Carvalho. Há uma composição de José Luís Matos, letra e música, Mosquito; e em Lisboando a voz é de Pedro Moutinho. Lisboa, onde tanta coisa se mistura, é o mote e o cenário deste mosaico multicultural.

 

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