Dois violoncelistas brilhantes

Um consagrado britânico, um jovem francês: Steven Isserlis, Edgar Moreau.

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FOTO: Adriano Miranda

Steven Isserlis é um consagrado violoncelista britânico, já de longa carreira e vasta discografia. Aliás, e a propósito, cabe notar que já há 30 anos tinha registado o Concerto de Elgar, que agora volta a gravar, num programa exclusivamente de obras de autores também britânicos.

É uma obra essa, a de Elgar (certamente a mais interessante – com o ciclo vocal e orquestral Sea Pictures, do pomposo compositor) que é recorrente no reportório de violoncelistas, mas que é também uma dessas sobre as quais paira um fantasma, a da justamente celebérrima gravação de Jacqueline du Pré com John Barbirolli.

Sendo de per si um interprete fogoso, Isserlis aborda a obra de modo arrebatado, exaltando o tardo-romantismo. Ora, a esta exacerbação contrapõe-se a habitual contenção de Paavo Järvi. Podia ser um caso de desencontro mas antes pelo contrário: é a autoridade da direção de Järvi que mantém a coerência do conjunto, permitindo a Isserlis não transbordar do arrebatamento.

William Walton é sobretudo conhecido por Façade, obra peculiaríssima, com poemas (ditos e não cantados) de Edith Sitwell e conjunto instrumental. Mas outro aspecto da sua produção deve ser destacado, o de ter escrito concertos para três instrumentos de cordas, violino, viola e violoncelo – o último o menos conhecido. Em termos bastante diferentes do que sucede na obra de Elgar, muito mais contidos, ainda assim Isserlis reencontra-se em terrenos que lhe são propícios, sobretudo no Allegro appassionato central.

Associar Elgar e Walton eis um interesse do disco e, desde logo, é isso que é destacado na capa, Elgar & Walton. Contudo o interesse maior do disco nem é esse, por distintivo que seja, mas sim as raras obras de Gustav Holst, Invocation, e de sua filha, Imogen Holst, The fall of the leaf, esta para violoncelo solo.

Holst, Gustav, é quase exclusivamente conhecido por uma obra ultra-célebre, The Planets, todavia pouco representativa das suas características autorais, de notória filiação simbolista, como é patente em Invocation, obra de sedução encantatória.

Mas se a tríade de Elgar, Walton e Holst já seria mais que suficiente para conferir relevo a este registo so british, é a verdadeira raridade da preciosa obra de Imogen Holst a sua maior valia, e inclusive The fall of the leaf revela-se uma obra de influência patente nas Suites para Violoncelo Solo de Britten (Imogen Holst era muito próxima do casal Benjamin Britten – Peter Pears), mesmo que o grande paradigma delas fossem as Suites de Bach.

Este é um programa brilhantemente concebido (o próprio Isserlis assina aliás as notas) e interpretado.

Edgar Moreau é um muito jovem violoncelista francês. Depois de um primeiro disco só com acompanhamento de piano, Play, eis que se aventura numa viagem pelo século XVIII com um agrupamento com instrumentos de época, Il Pomo d’Oro.

A viagem começa pelo inevitável Concerto em dó maior de Haydn, não menos inevitavelmente passa por Boccherini e Vivaldi, mas inclui também os muito pouco conhecidos Giovanni Platti e Carlo Graziani, ou seja, cobre um arco histórico curto, de cerca de 50 anos, todavia de mutações, do barroco ao classicismo, passado pelo estilo galante.

O percurso é feito por Moreau com uma “facilidade” estonteante e fica-se estupefacto com o seu virtuosismo técnico, mas não menos importante são as qualidades cantantes deste violoncelo. Ouvir este disco é um deleite. Brilhante!

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