O presidente da SAD da União de Leiria, o empresário russo Alexander Tolstikov, foi detido na noite desta terça-feira no rescaldo de uma operação da Polícia Judiciária (PJ) que visou aquela estrutura e já depois de ter sido constituído arguido a meio da tarde, confirmou ao PÚBLICO fonte policial. O mesmo destino tiveram o seu adjunto e o responsável pelo departamento financeiro da SAD.

No total, contando com a própria SAD, o clube (considerados arguidos como entidades colectivas) e uma terceira pessoa ligada àquela estrutura desportiva, a operação da PJ resultou em seis arguidos constituídos. Deverão ser presentes a um juiz de instrução criminal esta quarta-feira para interrogatório e posterior determinação das medidas de coacção.

A Polícia Judiciária realizou nesta terça-feira buscas nas SAD do União de Leiria, do Benfica, Sporting e Sporting de Braga por suspeitas de branqueamento de capitais que serão provenientes de máfias russas.

A Operação Matrioskas, como foi designada pela PJ, incluiu 22 buscas “domiciliárias e não-domiciliárias” que permitiram já “apreender material com relevante interesse probatório e subsequente constituição de pessoas individuais e colectivas como arguidas”, adiantou a PJ em comunicado.

Em causa estará o investimento de milhões de euros provenientes de grupos criminosos altamente organizados na Rússia para a SAD da União de Leiria. Tal ocorreria há cerca de dois anos, através da maior accionista da SAD da União de Leiria, a DS Investment, uma empresa que pertence ao grupo russo D-Sports.

Informações recolhidas pela PJ de Leiria, desde o início de 2015, lançaram a suspeita adensada também pelo baixo volume de receitas registadas naquela SAD, apesar do grande investimento. O dinheiro passaria pela estrutura, formalmente, como investimento no futebol, mas voltaria a sair já com uma aparente origem lícita. 

A contratação de alguns jogadores russos também terá servido para lavar o dinheiro russo, mas esse não seria o esquema principal usado pelos suspeitos, entre eles alguns responsáveis da SAD da União de Leira. Alguns visados pela investigação serão também estrangeiros.

Suspeitas das autoridades concentram-se apenas na União de Leiria

Neste inquérito, que decorre no Departamento Central de Investigação e Acção Penal do Ministério Público, estão em causa, além do branqueamento de capitais, crimes de fraude fiscal, associação criminosa, corrupção e falsificação de documentos.

As buscas na Luz, Alvalade e Braga servirão apenas para a recolha de documentação, uma vez que esses clubes terão feito negócios com a União de Leiria, nomeadamente referentes a jogadores. Não há, porém, qualquer suspeita sobre os responsáveis do Sporting, Benfica e Sporting de Braga. Até ao momento, as suspeitas das autoridades concentram-se apenas na União de Leiria. Aliás, no âmbito dos mandados de busca, deverão ser constituídos vários arguidos.

Nestas diligências judiciais, que “abrangem, designadamente os estádios de futebol de Braga, Leiria, as SAD do União de Leiria, Sporting Clube de Portugal e do Sport Lisboa e Benfica, bem como residências particulares, empresas, veículos, escritórios de contabilidade e um escritório de advocacia, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), estão envolvidos inspectores da Polícia Judiciária de Leiria e mais de 30 investigadores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção. Também inspectores da Autoridade Tributária estão a auxiliar o Ministério Público nesta investigação.

A PGR confirmou, entretanto, as buscas em comunicado “nas zonas de Lisboa, Leiria, Braga e Viseu”. De acordo com a Procuradoria, “estão envolvidas 22 equipas da Polícia Judiciária, bem como um magistrado do Ministério Público, um magistrado judicial e um representante da Ordem dos Advogados”.

A SAD do Sp. Braga confirmou que as buscas da PJ mas negou ser visada nesta averiguação. Num curto comunicado colocado no site oficial do clube refere que a SAD bracarense prestou “todas as informações solicitadas” e demonstrou “total disponibilidade para cooperar com as entidades competentes”, frisando que “nem a SAD do Sporting de Braga nem qualquer um dos seus representantes ou colaboradores são visados na investigação referida”.

O mesmo sucedeu com a Benfica SAD, que confirmou a solicitação, por parte da PJ, de “documentação em relação a duas transacções efectuadas com terceiros, no âmbito de uma operação de investigação em que a Benfica SAD não é visada”.