Governo de Moçambique desmente vala comum e polícia "continua a investigar"
Populares da Gorongosa mantêm a versão de que encontraram uma vala comum com cerca de 120 corpos na quarta-feira passada.
As autoridades de Moçambique não se entendem sobre a notícia da descoberta de uma vala comum, avançada na quarta-feira por um grupo de camponeses. Nas últimas horas, o administrador do distrito da Gorongosa desmentiu essa versão e a polícia do país anunciou que vai "continuar a investigar" o caso.
Numa comunicação enviada à governadora da província de Sofala, citada por vários sites e jornais moçambicanos, o administrador da Gorongosa, Manuel Jamaca, negou a existência de qualquer vala comum naquela região, condenando o que diz ser "uma atitude de desinformação".
"Os mentores desta informação levam consigo tendências de denegrir a imagem do distrito e do país em geral, semear uma imagem terrorista e confundir a comunidade nacional e internacional sobre a ordem, segurança e tranquilidade públicas que se vive no país. Pelo que reafirmamos que a informação é falsa.Também de igual modo pretende atacar profundamente os valores morais e humanitários plasmados na nossa Constituição da República de Moçambique. Repudiamos veementemente esta atitude de desinformação", lê-se no comunicado.
Na quarta-feira, um grupo de camponeses relatou a descoberta de uma vala comum com cerca de 120 corpos, numa zona controlada pela Renamo e próxima de uma mina ilegal de extracção de ouro. As testemunhas disseram que os corpos estavam numa antiga escavação a céu aberto, que era usada para a extracção de saibro – uma areia grossa destinada às obras de reabilitação da principal estrada de Moçambique, a EN1.
"São cerca de 120 corpos descarregados lá", disse ao serviço em português da Voz da América um dos camponeses. A testemunha, não identificada, disse que os corpos "podem ser de civis sequestrados e assassinados por questões políticas" ou "militares mortos em confrontos armados, entre o braço armado da Renamo e as Forças de Defesa e Segurança".
A Gorongosa tem sido palco de confrontos nos últimos meses e é uma área onde as forças armadas da Renamo têm estado activas – foi lá que o seu líder, Afonso Dhlakama, se refugiou no início do ano. A Resistência Nacional Moçambicana informou este mês que pelo menos 14 dos seus membros foram executados desde o início do ano, acções que atribui a esquadrões da morte.
A confusão política e os receios sobre a situação da segurança no país tornam difícil perceber o que realmente aconteceu.
O porta-voz da polícia da província de Sofala, Daniel Macuacua, disse que as autoridades vão "continuar a interagir com os colegas [da Gorongosa] para poder perceber até que ponto pode vir a constituir verdade" a descoberta de uma vala comum, e a Comissão de Direitos Humanos de Moçambique declarou que "quer apurar a veracidade dos relatos", classificando a situação como "muito preocupante".
"Se for um facto real e comprovado, é muito preocupante", disse o presidente da comissão, Custódio Duma, citado pela Deutsche Welle.
O correspondente do serviço Deutsche Welle África na região da Gorongosa, Arcénio Sebastião, disse que o local onde os camponeses afirmam ter descoberto a vala comum é de difícil acesso, e que até agora foi impossível obter uma confirmação independente.
Segundo Arcénio Sebastião, os populares dizem que sentem o mau cheiro proveniente de uma zona situada depois de uma pequena ponte. "Quem teve coragem de descer da ponte para baixo conseguiu ver algumas ossadas. Falam sobre farrapos que se podem ver de longe, mas não é fácil identificar."
"Os populares dizem que existe e o Governo diz que não existe. Então, onde está a verdade? Nós não sabemos. Por essa razão tentamos de todas as formas aproximarmo-nos para ver se conseguimos apurar a verdade", disse ainda o correspondente.
Os jornais moçambicanos salientam que as imagens que têm circulado na Internet a acompanhar notícias sobre a descoberta de uma vala comum em Moçambique foram tiradas nas Filipinas, em 2011.