Fraude nas emissões empurra Volkswagen para prejuízos
Vendas de automóveis caíram 2%, mas as receitas do grupo aumentaram. Custos e provisões com o caso das emissões superaram os 16 mil milhões de euros.
O Grupo Volkswagen contornou a descida no número de carros vendidos em 2015 e conseguir fazer crescer a facturação. Mas os custos associados ao escândalo da fraude nas emissões acabou por ser uma factura demasiado pesada para as contas do grupo, arrastando os resultados financeiros para terreno negativo.
A multinacional alemã apresentou nesta quarta-feira resultados operacionais negativos de 4,1 mil milhões de euros em 2015 e prejuízos de 1,6 mil milhões, apesar de um crescimento de 5% nas receitas, que atingiram 213,3 mil milhões. As operações do grupo teriam um resultado positivo de 12,8 mil milhões, não fossem as despesas extraordinárias de 16,9 mil milhões (dos quais 16,2 milhões são gastos e provisões relativos à fraude), que acabaram por determinar que as contas fechassem no vermelho. Uma hora após o arranque da apresentação de resultados, as acções da Volkswagen caíam 1%, para cerca de 128 euros.
O escândalo das emissões começou em Setembro do ano passado, quando as autoridades ambientais dos EUA divulgaram que alguns motores a gasóleo tinham sido alterados para enganar os testes de poluição. Em condições reais de condução, os carros emitiam afinal muito mais mais óxido de azoto – um poluente associado a doenças pulmonares – do que o permitido por lei. O caso alastrou rapidamente à Europa e ao resto do mundo, e a Volkswagen acabou por reconhecer que o problema afectava cerca de 11 milhões de automóveis das várias marcas do grupo. Na apresentação de resultados, o presidente executivo, Mathias Mueller, afirmou que este problema “nega o sucesso de um ano fiscal inteiro, que teria ficado nos anais como mais um bom ano”. Mas notou que a empresa tem uma almofada capaz de aguentar a despesa: a divisão automóvel tem uma liquidez próxima dos 25 mil milhões de euros.
O grupo foi capaz de contornar o menor volume de vendas, provocado em parte pelo arrefecimento do mercado chinês. Globalmente, chegaram às mãos dos clientes 9,9 milhões de carros, um decréscimo de 2% face ao ano anterior A rival Toyota, que disputa o lugar de maior fabricante do mundo em termos de volume de vendas, ainda não apresentou resultados anuais. Entre Abril e Dezembro do ano passado, tinha vendido perto de 6,5 milhões de unidades, uma quebra de 4% em relação ao mesmo período de 2014.
Mueller reconheceu também que o processo de rectificação dos veículos com motores fraudulentos está mais atrasado do que o previsto. “Não estamos tão avançados nisto como gostaríamos. Temos planos na Alemanha e, consequentemente, na Europa. Mas tem havido um atraso inesperado na implementação do plano”, afirmou o executivo, que referiu problemas com a solução para o modelo Volkswagen Passat. As acções de rectificação foram combinadas entre a multinacional e a autoridade alemã responsável pelos veículos automóveis, num plano que é válido para todo o espaço comunitário.
O problema afecta vários modelos a gasóleo da Volkswagen, Audi, Seat e Skoda, as quatro grandes marcas do grupo. Dos 11 milhões de carros com o problema, 45% estão nos três grandes mercados europeus: Alemanha, França e Reino Unido. Em Portugal, a fraude afectou cerca de 125 mil carros das quatro marcas. A Siva, o importador da Audi, Volkswagen e Skoda, já começou as acções de rectificação. O primeiro modelo a ser chamado às oficinas foi a carrinha Amarok, para a qual é necessária apenas uma alteração de software (o PÚBLICO questionou esta quarta-feira a SIVA sobre o número de veículos rectificados, mas não obteve respostas). Em alguns dos outros modelos será necessária a instalação de novos componentes.
Na conferência desta quarta-feira, Mathias Mueller anunciou também uma mudança de planos no que diz respeito à divulgação dos resultados do inquérito interno que a companhia está a fazer. O grupo tinha inicialmente dito que apresentaria este mês resultados preliminares da investigação, mas vai agora manter-se em silêncio. “A divulgação de resultados preliminares nesta altura representaria riscos inaceitáveis para a Volkswagen, especialmente nos EUA. Gostava de assegurar que, apesar de comentários em contrário, nada está a ser apagado ou escondido na Volkswagen”, justificou Mueller.