Guterres critica “incapacidade” da UE na crise dos refugiados e o acordo com a Turquia
O ex-Alto-comissário das Nações Unidas para Refugiados participou no Porto no encontro das Esquerda e ouviu elogios à sua candidatura às Nações Unidas.
O candidato a secretário-geral das Nações Unidas e ex-Alto-comissário das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), António Guterres, lamentou este domingo, no Porto, a “incapacidade da Europa em dar uma resposta solidária à crise dos refugiados e à crise das migrações”.
“Era evidente que nenhum país sozinho podia resolver o problema, só a Europa, em conjunto, de forma solidária o poderia resolver com uma recepção eficaz, humana e ao mesmo tempo com todas as garantias de segurança a todos os que entravam e com uma distribuição equitativa por todos os países europeus. Como isso não aconteceu foi-se vendo evoluir as coisas de uma forma que é hoje extremamente preocupante”, declarou o antigo primeiro-ministro.
Numa intervenção que fez no final do encontro da Esquerda Europeia, que decorreu no Porto, organizado pelo Bloco de Esquerda, Guterres deteve-se no recente acordo entre a União Europeia (UE) e a Turquia sobre a crise migratória para dizer que esse acordo é o "contrário" daquilo que devia ser, sendo necessária uma "perspectiva distinta" e propôs uma "oferta maciça de reinstalação legal" para compensar um travão colocado no movimento irregular de pessoas em direcção à Europa como forma de combater o contrabando e o tráfico humano.
"Infelizmente, o que foi posto em cima da mesa no acordo entre a União Europeia e a Turquia não é isso. É por cada um que é reenviado para a Turquia vai-se buscar um. Ou seja, quanto menor for o movimento menor é o número de pessoas que vêm legalmente para a Europa. Quando é exactamente o contrário: quanto menor for o movimento maior deve ser o número de pessoas que vêm legalmente para a Europa. O que precisamos é de uma perspectiva distinta", afirmou o candidato a sucessor de Ban Ki-moon nas Nações Unidas.
Em Março, a União Europeia e a Turquia chegaram a acordo sobre a crise migratória, prevendo o retorno à Turquia de refugiados e imigrantes que cheguem à Grécia em situação irregular. Segundo o acordo, cada pedido de asilo tem de ser analisado individualmente e nele estão excluídas as deportações colectivas.
Em declarações aos jornalistas, no final do encontro, António Guterres falou sobre a sua candidatura a secretário-geral das Nações Unidas para dizer que não lhe cabe a si comentar a forma como está a decorrer. “Todos temos consciência de que é um processo muito complexo, um processo em que há vários interesses e várias perspectivas em jogo e, por isso, é bom ter sempre uma atitude de grande prudência em relação a estas situações que são muito imprevisíveis”, declarou. Perante a insistência dos jornalistas, reafirmou que não está “nem optimista, nem pessimista". "Estou determinado. Estou determinado a continuar a fazer o meu possível para lutar por aqueles valores que são os valores que justificam esta mesma candidatura”, concluiu.