Panama Papers ligam caso Sócrates ao "saco azul" do GES
Expresso e TVI dizem que dinheiro do caso Sócrates veio da ES Enterprises. A defesa do antigo primeiro-ministro já reagiu.
O Expresso e a TVI, os parceiros portugueses do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI) que está a divulgar os conteúdos dos Panama Papers, noticiam neste sábado a existência de uma ligação entre a Operação Marquês – o caso de corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais que envolve o antigo primeiro-ministro José Sócrates – e a existência de um “saco azul” no Grupo Espírito Santo (GES), que servia para “pagamentos extras” e “não documentados”.
A existência deste “saco azul”, a empresa ES Enterprises, foi pela primeira vez referida pelo PÚBLICO a 7 de Novembro de 2014, no quadro de uma investigação que concluiu que durante vários anos o GES usou este veículo para proceder a pagamentos não documentados. Os fundos transitavam entre várias praças financeiras, nomeadamente Suíça, Luxemburgo, Miami e Panamá.
O PÚBLICO referia então que a confirmação do “saco azul” do GES era susceptível de abrir uma outra frente de inquirições que podia culminar em novas revelações sensíveis. A ES Enterprises terá ainda servido para fazer circular verbas provenientes de Angola, designadamente, associadas a “contas” de Ricardo Salgado, do construtor José Guilherme e do presidente da Escom, Hélder Bataglia.
E é precisamente Hélder Bataglia que é citado na edição deste sábado do jornal Expresso, com a seguinte frase: as “transferências foram feitas a partir da Espírito Santo Enterprises”. A TVI diz que esta frase refere-se aos “12 milhões de euros que saíram de duas offshores e que, segundo a tese do Ministério Público, foram parar ao antigo primeiro-ministro José Sócrates”. No entanto, e citando Hélder Bataglia, o canal refere que as transferências em causa nada têm que ver nem com Joaquim Barroca nem com o homem-forte da Escom.
Entretanto, os advogados de José Sócrates emitiram um comunicado a reagir às notícias deste sábado do Expresso e da TVI, dizendo que o antigo governante “não tem, nem nunca teve, directamente ou indirectamente, designadamente através de offshores, qualquer relação negocial com o Senhor Hélder Bataglia”. Mais à frente dizem ainda que “a criação e a divulgação destas novas ‘suspeitas’ são, pois, totalmente infundadas, abusivas e caluniosas”.
O escândalo dos Panama Papers foi divulgado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, numa investigação que envolve 11,5 milhões de documentos provenientes da base de dados da empresa Mossack Fonseca, firma de advogados baseada no Panamá cujo negócio era a criação de offshores.
Em Portugal, segundo o Expresso e a TVI, são 240 os portugueses que surgem nos documentos relacionados com esta firma de advogados especializada na gestão de offshores. O ex-presidente do Benfica Manuel Vilarinho, o empresário Ilídio Pinho e o chairman do grupo farmacêutico Bial, Luís Portela são alguns dos nomes que aparecem nos documentos revelados pelos dois órgãos de comunicação social.