Funerais em Portugal estão mais privados, impulsionados pela cremação
Profissionais das empresas lutuosas reúnem-se durante três dias na Batalha. Sector movimenta 600 milhões de euros por ano.
As cerimónias fúnebres em Portugal estão a mudar para um modelo mais privado e mais íntimo, uma mudança de paradigma impulsionada pelo crescimento exponencial das cremações, afirma o presidente da maior associação do sector funerário.
"A indústria da cremação está exponencialmente em crescimento, como estão as cerimónias mais privadas, mais íntimas, mas ainda não chegámos ao modelo americano do catering [serviço de refeições] e convites. Ainda não formalizamos convites porque eles lá [nos EUA] organizam funerais para oito dias depois, nós cá continuamos com 24 horas e qualquer pessoa pode ir ao funeral, não precisa de um convite formal", disse à agência Lusa Carlos Almeida, presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL).
De acordo com o responsável da associação que representa 560 das quase mil agências funerárias existentes em Portugal, e que falava a propósito da ExpoFunerária, que decorre neste fim-de-semana na Batalha, as pessoas, em especial nos meios urbanos, participam cada vez mais [o falecimento] aos mais chegados, não querem tanto aquele funeral em que as pessoas se solidarizam e aparecem".
A excepção, adianta, continua a ser a dos meios rurais, "em que um funeral ainda é um acontecimento social". "E se não se está presente, os enlutados podem levar a mal. Mas os enlutados, por vezes, até agradeciam que alguns não estivessem", argumentou.
Para Carlos Almeida, a cremação "é uma solução que desprende as famílias de um monumento, há um elo que se quebra a uma sepultura ou a um jazigo. E todos aqueles que migraram para as cidades acabaram por perder as raízes de um meio eminentemente mais rural".
Segundo o presidente da ANEL, as cremações em Portugal representam cerca de 6% do total de serviços fúnebres — embora na região de Lisboa ultrapassem já o número de funerais tradicionais em sepulturas ou jazigos, atingindo os 53%, dados de 2013 —, percentagem aquém de outros países europeus, como a Inglaterra, Suécia ou Dinamarca, que apresentam resultados entre os 70 a 80%.
No continente e ilhas existem cerca de 20 crematórios (a grande maioria na faixa litoral, com excepção de Viseu e Elvas) e mais de uma dezena estão em construção ou projecto.
Carlos Almeida defende que os crematórios "não devem proliferar para o umbigo da freguesia ou para o umbigo do concelho", mas antes serem edificados através de parcerias intermunicipais, "um conjunto de municípios vizinhos que, num sítio estratégico, façam um edifício crematório que sirva as populações, até por questões de poluição, de funcionalidade e de exploração".
"Até para consolidar a cremação e cobrir todo o pais, devia ser por regiões. Qualquer dia começa a haver mais crematórios do que óbitos", ironizou.
A ANEL, em parceria com a Associação dos Agentes Funerários do Centro (AAFC), Associação dos Agentes Funerários de Portugal (AAFP) e Associação Portuguesa dos Profissionais do Sector Funerário (APPSF) apoia a realização, de sexta-feira a domingo, na Batalha, distrito de Leiria, da I Expofunerária – Salão Profissional de Equipamentos, Produtos, Artigos e Serviços para a Actividade Lutuosa, sector que movimenta cerca de 600 milhões de euros anuais.
Carlos Almeida explicou que o certame congrega agências funerárias, fabricantes de urnas, mármores, floristas, mas também produtos relacionados com a actividade — como cosméticos, câmaras frigoríficas, fornos crematórios ou equipamentos para autópsias, entre outros — e que os destinatários são os profissionais do sector, não estando a feira acessível ao público em geral.
Um dos destaques do evento vai para a recente certificação nacional de urnas funerárias (CNUF), marca promovida pela Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal e à qual já aderiram 15 fabricantes nacionais.
Já Rogério Henriques, da Exposalão Batalha, entidade promotora da I Expofunerária, afirmou que o certame — onde estarão representados 70 expositores num espaço com 5000 metros quadrados — "representa todo o sector e tem bastante massa crítica para ser um sucesso".