Rui Moreira foi a Milão mostrar "o grande projecto" do seu mandato

As velhas estruturas do antigo Matadouro, abandonadas há décadas, vão ser recuperadas e albergarão museus, arte, estúdios e empresas criativas e tecnológicas.

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Martin Henrik

A Biblioteca del Progetto, no Palácio da Trienal de Milão, em Itália, encheu-se para ouvir os responsáveis da Câmara do Porto explicar o que pretendem fazer com o antigo Matadouro Industrial da cidade. O projecto, desenvolvido por uma equipa multidisciplinar, e em que a parte de arquitectura ficou a cargo do gabinete Garcia & Albuquerque - Arquitectos, prevê a construção de dois edifícios novos no complexo e novas ligações à zona do Estádio do Dragão, mas a ideia subjacente ao local descrito pelo presidente Rui Moreira como “o grande projecto” do seu executivo, é a recuperação e manutenção de grande parte da construção original.

No pequeno caderno de apresentação que levou a Milão, denominado apenas em inglês Porto Before Porto, descreve-se ao pormenor o que irá nascer no grande complexo instalado em 29 mil metros quadrados de terreno e que estava ao abandono há décadas. Na 21a edição da trienal centrada no design, coube a Guilherme Blanc, o adjunto de Moreira para a Cultura, descrever as diferentes componentes que farão do Matadouro "o projecto estrutural" capaz de sintetizar as três componentes essenciais do actual executivo: cultura, economia e coesão social. Ou, como diz Rui Moreira no texto de apresentação do projecto, que farão do Matadouro o local onde a sustentabilidade ambicionada pelo executivo se manifeste “com a economia a suportar a coesão social e ambas a alimentarem-se na cultura”.

Por isso é que o programa já desenhado para o espaço prevê a instalação da mais variadas valências no local. Além da inclusão do Museu da Indústria num dos espaços do complexo, o Matadouro terá uma zona especificamente dedicada à reserva de colecções privadas de arte contemporânea, com uma pequena área expositiva e uma zona exclusiva para residências artísticas, que incluirá estúdios com área de residência para os artistas convidados e de apresentação dos seus trabalhos. Há uma vasta área para a instalação de empresas criativas e tecnológicas, destinada a grupos económicos e a médias empresas, nacionais e internacionais, e estúdios de produção e gravação para as áreas de cinema, música e televisão, com parte deles a poderem ser arrendados e alguns espaços voltados para projectos pedagógicos e emergentes. Está prevista uma zona para a preservação e demonstração de artes e ofícios tradicionais, um laboratório de gastronomia dedicado à cozinha Atlântica (com um restaurante associado) e um espaço expressamente dedicado a projectos que cruzem a cultura com a área social, envolvendo a população de Campanhã, que funcionará como "sede" do programa camarário Cultura em Expansão. Sobra a grande nave multiusos, a área central do complexo, que atravessa todo o edifício principal,  e que poderá ser utilizada para os mais diferentes fins, sendo dotada de uma plateia retráctil e equipamento de projecção. E, por fim, o pólo desportivo, com um campo multiusos e respectivas zonas de apoio, destinado “aos colaboradores dos projectos instalados no Matadouro”, mas aberto ao público.

Esta zona desportiva ficará instalada num dos dois novos edifícios que serão construídos no interior do complexo, no extremo norte do terreno. O outro, de menores dimensões, será para apoio e armazenamento.

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Mas é o primeiro que os arquitectos descrevem, em Porto Before Porto, como “muito mais ambicioso” e que será bem visível da Via de Cintura Interna (VCI), na expectativa de diminuir “o impacto negativo dos diferentes pavilhões” do Mercado Abastecedor, logo ali ao lado. É também a partir desta nova construção que se propõe “uma ligação directa (...) à entrada superior da estação de metro, por cima da VCI, ideia já prevista no Plano de Pormenor da Antas” e que nunca foi concretizada. No caderno entregue em Milão defende-se que “esta privilegiada passagem e ligação ao metro servirá não só quem venha visitar os espaços culturais que se encontrarão neste local, ou quem trabalhe nos diferentes  edifícios destinados a empresas, mas igualmente a população residente na zona da Corujeira, promovendo o atravessamento e abertura deste espaço à cidade envolvente, gerando com isso maior dinâmica e inclusão”.

Os arquitectos propõem ainda, no outro extremo do complexo, a Sul, um atravessamento também pedonal entre a VCI e o caminho de ferro “paralelo a um já existente mas deficitário”.

O arquitecto Jorge Garcia Pereira, que desenvolveu o projecto com Luís Albuquerque, considera que este edifício novo e a ligação que irá permitir ao metro, estádio e à oferta de estacionamento que aí existe, é "fundamental" para o sucesso do futuro Matadouro, ainda que a parte mais exigente do trabalho desenvolvido tenha sido o compromisso de manter "grande parte da construção original". Já a parte mais entusiasmante, diz o arquitecto, é o questionamento constante da população sobre o projecto e o seu desenvolvimento. "A dinâmica é fantástica, o nosso gabinete fica junto ao Matadouro e as pessoas estão sempre a perguntar como está a andar e quando arrancam as obras", disse ao PÚBLICO.

O projecto global deverá custar cerca de 10 milhões de euros e a Câmara do Porto tem a expectativa que o concurso público para a sua concretização seja lançado no próximo ano, podendo as obras avançar antes do final do actual mandato. O projecto do Matadouro Industrial começou a ser desenvolvido pelo vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, que morreu em Novembro do ano passado.

A concretizarem-se os planos agora apresentados, o futuro Matadouro, além de espaço de trabalho, cultura e desenvolvimento social, será também um local onde se poderá ir para apreciar um pouco mais de verde, naquela zona da cidade. É que o projecto prevê a demolição parcial de um dos edifícios para “a criação de um pequeno bosque que irá irromper, do lado nascente, parte do edifício principal” e, além disso algumas das coberturas dos edifícios serão ajardinadas, estando ainda previstas “novas zonas de plantação de árvores de grande porte”.

Após a apresentação do projecto, apresentado no âmbito de uma presença mais alargada a cargo da ESAD, houve um pequeno debate, moderado por Guta Moura Guedes, em que a responsável pela Bienal de Design de Lisboa perguntou a Rui Moreira se estava preparado para ter de acompanhar de forma constante o futuro Matadouro. "A cultura é sempre passado, presente e futuro. Tem a percepção que tem que tomar conta deste projecto?", questionou. Moreira garantiu que sim, por considerar, antes de tudo, que o modelo será "sustentável", pela forte componente empresarial que encerra. 

O PÚBLICO viajou a convite da Câmara do Porto

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