Alunos de Engenharia projectam “reanimar” a ponte Maria Pia
Instituto Superior de Engenharia do Porto lançou concurso de ideias a futuros arquitectos para dar nova vida à Ponte Maria Pia, no Porto.
Miguel Lopes de Sousa, de 37 anos, arquitecto e agora aluno de Engenharia Civil do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), em parceria com o colega arquitecto Rui Israel, apresentaram, na primeira edição do concurso de ideias “Desafio 2016”, o Projecto RIM, que propõe a construção de um tabuleiro inferior na estrutura já existente da Ponte Maria Pia, criando assim uma via pedonal e uma ciclovia que permite unir as marginais do Porto e Gaia, tendo como elemento principal o arco existente, construído pela empresa de Gustave Eiffel em 1887.
Nesta proposta, o Projecto RIM propõe um novo tabuleiro, seguro por cabos de aço ao arco existente, revestido por ripas de madeira - para recordar aos utilizadores a função original da ponte, que assegurava a ligação de comboio entre as duas cidades. Miguel Sousa, que recebeu o prémio, referiu ao PÚBLICO que um dos factores principais deste projecto é a valorização do património existente, criando uma ligação “discreta e minimalista” que permite a eliminação da barreira física que o rio representa e que permite unir as duas margens do rio de forma segura para peões e ciclistas, com áreas de repouso ao longo do percurso da ponte para poder “contemplar” a vista.
Segundo o arquitecto e, agora, aspirante a engenheiro, o projecto quer “criar uma ligação que se anule em relação à pré-existente, para dar realce e brilho à estrutura da ponte. Há a valorização da ponte como elemento estrutural, ou seja, o arco em si, que será a estrutura do novo tabuleiro. Ou seja, a nova ponte apoia-se na outra e ao mesmo tempo anula-se, para lhe dar esse brilho.” Nesta proposta, o perímetro do tabuleiro a construir enquadra-se no perímetro original da ponte, não lhe retirando assim protagonismo.
No projecto não foi esquecido o tabuleiro superior da ponte, onde seriam integrados painéis solares geradores de energia fotovoltaica, para que se produza energia para iluminar a travessia durante a noite. Já o novo tabuleiro contará com dois corredores nos lados e uma zona de lazer ocupará o centro da travessia.
O vencedor, que recebeu um prémio monetário de 500 euros patrocinado pela Mota Engil, não hesita em dizer que este projecto lhe parece viável e exequível. Miguel Sousa afirma que “este concurso é uma boa abertura para um caminho que os dois municípios [Porto e Vila Nova de Gaia] poderiam seguir para valorizar a ponte e também as margens do rio”.
O concurso "Desafio 2016", organizado pelo curso de Mestrado em Engenharia Civil do ISEP, foi enquadrado nas Jornadas sobre os Grandes Desafios da Engenharia Civil. Nesta edição,os estudantes foram convidados a "reanimar" a ponte Maria Pia, no Porto.
Num concurso que estava aberto a todos os estudantes universitários do país, concorreram e esta edição sete projectos. Avaliados por um júri composto por docentes do ISEP, pelas câmaras municipais de Vila Nova de Gaia e Porto e também pela Ordem dos Engenheiros, foram seleccionados três projectos, tendo os outros dois – Treliçados, da Autoria do estudante Daniel Magalhães e Engenharia a Recriar de Catarina Pereira e Ana Carvalho – recebido uma menção honrosa. As propostas foram apresentadas em vídeos de dois minutos, em que os estudantes tinham de mostrar os seus projectos.
A Ponte Maria Pia foi inaugurada em 1877 por D. Luís I e D. Maria Pia – que lhe deu nome - para fazer a ligação ferroviária entre Porto e Gaia. Foi onstruída pela Eiffel Construccions Métalliques, sob a direcção de Gustave Eiffel. Foi considerada Monumento Nacional em 1982 ainda antes de ser desactivada. Esta ponte assegurou desde a sua inauguração até 1991 a ligação ferroviária entre as duas margens do Douro. Nesse ano, este papel passou para a Ponte de São João, mais capaz de assegurar as necessidades presentes dos transportes ferroviários.
Nestas Jornadas sobre os Grandes desafios da Engenharia Civil, que decorreram durante toda a tarde de quarta-feira no ISEP, foram ainda distinguidos os melhores alunos deste Instituto e foi também homenageado o Engenheiro António Pinto Ferreira, figura crucial da história daquela instituição.
Texto editado por Ana Fernandes