O Colégio Militar e a “sã“ convivência homossexual

Como professor, só posso exercer no profundo respeito pela diversidade, seja essa ao nível do sexo, raça, credo ou preferência sexual

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Pedro Cunha/arquivo

Parece que lá para os lados do Colégio Militar não gostam de alunos homossexuais. Segundo rezam as crónicas, quando apanham um, excluem-no, mas não expulsam. Lamento imenso, mas não consigo compreender a diferença. Ou serão antes os militares quem não consegue ver, e conviver, com a diferença? Como professor, só posso exercer no profundo respeito pela diversidade, seja essa ao nível do sexo, raça, credo ou preferência sexual. Porquê? Porque a sociedade evoluiu, porque nos queremos aceitar a todos como iguais, porque respeitamos os nossos diferendos e tudo quanto se passa na esfera íntima, sem juízos de valor, sem ideias preconcebidas. E como professor no Colégio Militar terei, supostamente, de cumprir os mesmos preceitos. A Direcção do Colégio Militar, no entanto, parece pensar de forma diferente, mas se eu falhar nos meus deveres, adivinhem lá quem vai para o olho da rua? Exactamente.

Por tal, foi com muita admiração e agradável surpresa ter tomado conhecimento, na semana passada, do pedido de demissão por parte do General Carlos Jerónimo, agora ex-Chefe de Estado Maior do Exército, no seguimento das declarações do subdirector do Colégio Militar, o Tenente-Coronel António Grilo, sobre os alunos homossexuais e a “perda de convivência interna“ diante dos seus pares, os alunos heterossexuais do Colégio.

Mas então será que o mundo, num repente, abriu a boca e, numa grande golfada de ar, encheu os pulmões, a cabeça e os membros de uma lufada de bom senso? Primeiro é o outro que se demite depois de querer dar umas valentes bofetadas (e porque não o clássico açoite de chinelo com o rabo ao léu diante dos colegas), e agora isto?

Infelizmente, não. Porque Carlos Jerónimo “pode não ter nada contra a maricagem“, mas demitir-se por causa da mesma é que não. Porque, afinal, o Carlos demitiu-se precisamente por não querer demitir o António, que isto entre camaradas de armas e do peito é coisa de homens e a tropa é um assunto sério. Dizem eles ser o Colégio Militar uma instituição onde quem “foge à norma não tem cabimento naquele grupo“, e onde “as trocas de afectos são violadoras do regulamento“. Ora, lá se foi a formação cívica e o cultivar de relações interpessoais tão equilibradas como saudáveis... e por esta altura começo a preocupar-me seriamente com o tipo de adultos que tão ilustre colégio pretende formar... Certo é que, e até mais ver, o Tenente-Coronel António Grilo ainda por lá anda na Direcção do Colégio Militar, para mal de todos quantos não professem a heterossexualidade, essa religião sacrossanta, até porque em situação de guerra, já se sabe, só se é homem ou mulher de acordo com quem se vai para a cama, e isto da homossexualidade “é uma doença terrível, e nem com choques eléctricos a coisa lá vai“. Dependendo da Direcção do Colégio militar, no entanto, receio que uns bons esticões não façam mal a ninguém...

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