Incumprimento volta a aumentar: 9% dos empréstimos são crédito malparado
Um terço dos empréstimos concedidos a empresas de construção é crédito malparado.
Há quase 20 mil milhões de euros de crédito malparado nos bancos portugueses. Perto de 18 mil milhões são empréstimos vencidos de empresas e particulares residentes no país. E deste montante, mais de um quinto são empréstimos que as empresas do sector da construção deixaram de pagar, entrando em situação de incumprimento.
As estatísticas financeiras actualizadas nesta terça-feira pelo Banco de Portugal mostram que a percentagem do crédito malparado face ao total dos empréstimos concedidos voltou a aumentar em Fevereiro. Ao todo, em quase 200 mil milhões de euros de empréstimos a residentes (81.115 milhões a empresas e 118.821 milhões a particulares), 9% são créditos em incumprimento (continuavam por regularizar 30 dias depois de acabar o prazo de vencimento da prestação bancária). O rácio aumentou em relação a Dezembro e Janeiro, aproximando-se dos níveis dos meses anteriores, em que estava acima dos 9%.
Os níveis de incumprimento mais elevados continuam a ser os do sector da construção. Mais de um terço (34,4%) são empréstimos vencidos, num valor que chega a 4389 milhões de euros (em 12.767 milhões concedidos). Nas actividades imobiliárias, 25,6% do crédito é malparado; no comércio e reparação de automóveis, é de 16,3%; na restauração, alojamento, nas empresas de consultadoria e nas indústrias transformadoras, supera os 10%.
Os números do Banco de Portugal dão uma dimensão do problema que atinge o balanço dos bancos, um tema que ganhou destaque depois de o primeiro-ministro vir defender na entrevista ao Diário de Notícias do último domingo a necessidade de ser criado um “veículo de resolução do crédito malparado”.
Nas empresas, o crédito em incumprimento representa 15,5% dos empréstimos. Há uma grande disparidade entre os níveis de incumprimento consoante a dimensão das sociedades. Se nas grandes companhias o nível de incumprimento corresponde a menos de 4% dos empréstimos (em valor), nas médias empresas já supera os 12%, nas pequenas chega aos 14,5% e no caso das microempresas já apanha um quarto dessas sociedades (26,1%).
Nos empréstimos à habitação das famílias, estabilizou nos 2,6% face ao mês anterior (em 97.269 milhões de empréstimos, 2543 milhões são crédito vencido). Já no crédito ao consumo, onde o incumprimento é tradicionalmente mais elevado, houve um ligeiro recuo, com o rácio a passar de 9,4% para 9,3%. Pelo terceiro mês consecutivo está abaixo da barreira dos 10%.