Samorost 3: pequeno gnomo em terras de sonhos

O novo jogo do estúdio checo Amanita Design converte a herança da grande escola de animação checa num objecto interactivo que maravilha

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"Samorost 3", o mais recente jogo de "aventura" do estúdio independente checo Amanita Design, retoma o "leitmotiv" dos episódios anteriores da série, em que um acontecimento inesperado interrompe o repouso do gnomo protagonista, desassossegando uma existência que se imagina pacata. Desta vez, é o mistério da queda de uma flauta, dotada do dom de permitir a comunicação com coisas e seres, que leva o gnomo a empreender uma viagem espacial para o solucionar, trajando sempre o pijama branco que se tornou emblemático do carácter onírico da série, como uma espécie de versão alienígena de Little Nemo.

 

Este é o pretexto para uma série de pequenas "viagens filosóficas" a sete planetas. Neles, o gnomo procura pistas para resolver enigmas, assim como admira e explora os seus ecossistemas fantásticos, ricamente detalhados. A inventividade da Amanita Design exprime-se em pleno na anatomia extravagante dos seres que povoam aquele universo, "rinocerontes de Dürer" interactivos, como uma tartaruga espacial e um híbrido de urso polar e papa-formigas, calmos e sencientes, características incomuns nas representações habituais do corpo grotesco. Os desenhos de fauna e flora "exóticos" de viajantes e naturalistas anteriores à invenção da fotografia, quantas vezes fantasiosos, são aqui referências óbvias.

 

"Samorost 3" é um objecto verdadeiramente interartístico, entre sistemas diferentes, que converte em objecto interactivo a herança da grande escola de animação checa e das longas tradições locais de música "erudita" e jazz. A banda sonora de Tomáš Dvorák (Floex) é uma peça central da produção de significados do jogo e os momentos musicais em que o gnomo participa são músicas dos mundos que descobre com deslumbramento de etnomusicólogo. A banda desenhada é outro dos diferentes meios usados em "Samorost 3", fornecendo elementos narrativos importantes e evocando esteticamente um outro inventor de mundos surreais, Moebius.

 

A série "Samorost", de que esta terceira versão é o resultado mais ambicioso, constitui um notável exemplo de produção autoral nos videojogos. Nos dois títulos anteriores, Jakub Dvorský, que os dirigiu, neles colocou assinatura, figurando em deliciosos "cameos". Passaram-se dez anos desde "Samorost 2" que incluiram, de permeio, "Machinarium" e "Botanicula" que sedimentaram a impressão, agora de novo reforçada, de ser a Amanita Design o estúdio com produção mais distintiva e criativa do meio. 

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