E se Stephen King e James Franco evitassem o assassinato de Kennedy?

Fox substitui zombies por James Franco e J.J. Abrams esta segunda-feira às 22h15. Viagens no tempo e a América na adaptação do livro 22.11.63 para a televisão.

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A crítica norte-americana não ficou totalmente rendida, dividindo-se entre elogios e reparos ao ritmo e ao desenvolvimento das personagens Warner Bros
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A crítica norte-americana não ficou totalmente rendida, dividindo-se entre elogios e reparos ao ritmo e ao desenvolvimento das personagens Warner Bros

Dançar é vida e Jake não é um homem de grandes choros. Duas frases que bailam nas primeiras páginas de 22.11.63, o romance em que Stephen King nos lança pela toca do coelho em busca do que poderia ter sido o mundo se o assassinato do Presidente John F. Kennedy fosse evitado. Na noite desta segunda-feira, mais parceiros de dança se juntam a King em 22.11.63, versão série: James Franco como protagonista e J.J. Abrams como produtor executivo, ainda com o brilho do sucesso de um dos mais rentáveis filmes de sempre nas bilheteiras. Mas isso foi 2015 e agora é 2016. Ou será 1960?

Baseado no longo romance de King sobre viagens no tempo, amor, política, a América e as armadilhas deste género de ficção, 22.11.63 é a chegada ao audiovisual de um page-turner editado em 2014 pela Bertrand em Portugal. E é a enésima adaptação de um trabalho do escritor, prolífico mestre do thriller, do horror ou do suspense, ao cinema ou televisão. De Carrie a Stand by Me passando por Under the Dome ou The Shining, King já viu o seu trabalho passar para outras mãos, nem sempre com o seu agrado (é histórica a sua dissensão com Kubrick sobre Shining). No caso do meticuloso 22.11.63, o livro de 2011 chegou a estar nas mãos de Jonathan Demme, mas ele e King não chegaram a acordo sobre a adaptação, e entrou em cena J.J. Abrams. O realizador de Star Wars VII e Star Trek até compôs a música do genérico com elogios de King, satisfeito com o trabalho final da série.

Dançar é a vida quotidiana de um professor da era dos telemóveis enquanto espera pelo momento sixties em que tenta evitar a morte de um dos mais emblemáticos chefes de Estado do mundo. Já Stephen King esperou quase 40 anos para retomar um projecto que tinha abandonado na década de 1970, por ser uma tarefa demasiado ambiciosa. Como nota a crítica do New York Times Janet Maslin, a propósito de 22.11.63, “os livros de King têm uma componente de mundo real muito mais forte do que costumavam, mesmo quando lida com premissas alicerçadas na ficção-científica”. E não há elementos mais reais na história americana do que os elencados a Jake Epping, o protagonista James Franco, quando lhe é sugerido mudar o curso da história – 11 de Setembro, a vitória de Bush sobre Gore em 2000, até a tentativa de assassinato falhada de Hitler em 1944… Mas é 22 de Novembro de 1963, a data que a América não esquece, a escolhida.

O dia em que “um pequeno homem solitário”, como escreve Norman Mailer, citado por King na obra, “fez cair um gigante”. O dia da morte de John F. Kennedy, um marco temporal, o “momento de separação de águas” por definição para Al Templeton - a personagem de Chris Cooper, o dono de um restaurante em Lisbon Falls que esconde um portal para outro tempo. É ele que convence Jake a tentar mudar o passado, entretendo-se ao longo de oito episódios a dedilhar os cordéis da realidade e do tempo mas também simplesmente a viver embeded em 1960 (no livro, a personagem aterra em 1958), a dançar lindy hop, a ensinar alunos simpáticos entre violência doméstica e cheiro a relva aparada de fresco.

A crítica norte-americana não ficou totalmente rendida, dividindo-se entre elogios e reparos ao ritmo e ao desenvolvimento das personagens – e à perda de alguns elementos (como a cidade ficcional-fétiche de King, Derry) do livro. Mas o primeiro episódio, as duas horas que a Fox transmite esta segunda-feira, são as que mais elogios recebem. E se esta é uma série que a Fox implanta no horário deixado vago por um dos seus sucessos, The Walking Dead, tem também o peso da responsabilidade da contraprogramação (os zombies continuam com Fear the Walking Dead no canal AMC, que também estreia esta segunda-feira). Por falar em tempo, 22.11.63 é ainda uma presença especial na paisagem audiovisual portuguesa por ser um original do Hulu, um serviço de streaming concorrente do Netflix que não tem presença em Portugal.

“E se?” é uma pergunta da ficção que tem ganho atenção nos últimos anos, de 22.11.63, ou “e se John F. Kennedy não tivesse sido assassinado?”, a The Man in the High Castle, ou “e se o Japão e a Alemanha tivessem ganho a II Guerra?”, visão de Philip K. Dick tornada em série (bastante alterada) por Ridley Scott para a Amazon. “Para mim, é como todas as histórias começam”, disse a propósito a responsável pelo desenvolvimento da série, Bridget Carpenter, ao Guardian, atraída pelo “efeito dominó” que a pergunta lança. Paradoxos, consequências, mas a certa altura “a viagem no tempo deixa de ser a história”, disse Carpenter (Friday Night Lights, Parenthood) ao Los Angeles Times. “É importante no início e é importante no fim”. No meio, é história. E nesta história uma coisa é certa - o passado dá luta.

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