“Às vezes penso que fomos longe de mais, mas depois vejo as notícias”, diz Kevin Spacey
Actor norte-americano esteve em Paris a falar sobre a série que só agora chega a França. Não conseguiu fugir ao tema das eleições nos EUA.
É um tema que tenta evitar mas que está colado à série que protagoniza, House of Cards. Kevin Spacey foge às perguntas sobre a política norte-americana, já o sabíamos, mas o tema da série e a campanha nos EUA impõem-se à sua vontade. Nesta segunda-feira, no evento do Netflix em Paris, Spacey não conseguiu evitar. Se há umas semanas já tinha dito que tínhamos os políticos que merecíamos, agora o actor defende que House of Cards nunca vai longe demais. Basta olhar para a realidade, diz.
À quarta temporada, a série chegou a muitos dos países onde ainda não estava disponível por ter os direitos vendidos a canais de televisão — a Portugal as três primeiras temporadas deste drama político chegaram no mês passado e a quarta será em Maio, apesar de já ter estreado no mundo (ao mesmo tempo no TVSéries, a passar um episódio por semana). Motivo que trouxe Kevin Spacey a Paris num evento do serviço de streaming.
O actor mostrou-se surpreso com o sucesso da série, que acompanha a subida ao poder do congressista Frank Underwood, para lá dos Estados Unidos. Mas não acha que o segredo seja a política mas sim a relação que Frank mantém com a mulher, Claire Underwood, interpretada por Robin Wright. “São as políticas da vida, é muito interessante perceber como as pessoas se identificam com estes personagens”, diz perante uma plateia de jornalistas europeus, destacando como o sucesso da série e a aposta do Netflix abriu portas para que mais produções originais se começassem a fazer.
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“Só podemos competir com conteúdo original e o Netflix teve a coragem de arriscar”, continuou, contando que quando House of Cards era ainda um projecto no papel de Beau Willimon, o showrunner, e David Fincher, o produtor executivo da série, a par de Spacey, não houve um canal que o quisesse. Não, pelo menos, como o serviço de streaming. “Apresentámos a ideia para a série a diferentes canais e todos a acharam interessante, mas queriam sempre um episódio-piloto”, lembra. “Mas quando a apresentámos a Ted [Sarandos, responsável pelos conteúdos do Netflix] ele percebeu que não era preciso e perguntou logo quantos episódios queríamos fazer. Respondemos: duas temporadas.” E assim foi.
O sucesso foi imediato e não tardou a que uma terceira temporada fosse assegurada, e depois a quarta. “A coragem do Netflix de apostar nisto tornou tudo muito mais entusiasmante”, acrescenta. “E eu tive a sorte de ter este papel.”
Sobre a quarta temporada, o actor recusa-se a dizer qualquer coisa, justificando que ao contrário das televisões, o serviço de streaming veio impor uma nova forma de vermos entretenimento — se podemos ver tudo de uma só vez, também podemos deixar para mais tarde qualquer série disponível. “Há pessoas que ainda nem viram a primeira temporada, não quero ser o presidente dos spoilers”, brinca, dizendo perceber que as pessoas fiquem frustradas pela falta de resposta do seu lado.
Em breve, começará a rodar a quinta temporada, pela primeira vez sem o seu criador. “Beau estava cansado, há muito tempo que não faz mais nada”, conta com a certeza de que a qualidade da série não se perderá porque a equipa de argumentistas não mudará.
Quando questionado sobre a corrida à Casa Branca, e as semelhanças, ou não, de House of Cards com a realidade, Spacey começou por responder da forma que sempre responde: uma coisa é ficção e a outra não e por isso não é comparável. Mas acabou por dizer mais: “A verdade é que alguns candidatos parecem ser ficcionais”. “É engraçado ver o paralelo. É muito interessante, em particular para os americanos. Muitas vezes acabamos de filmar, eu saio e vou para o hotel e fico a pensar se fomos longe demais, se fizemos algo que não parece real, mas depois ligo a televisão e vejo as notícias e percebo que não chegamos tão longe.”
O PÚBLICO viajou a convite do Netflix