Putin considera Panama Papers uma tentativa para "desestabilizar" a Rússia
O Presidente russo comentou pela primeira vez o escândalo da Mossack Fonseca. China censura sites que fazem referência ao envolvimento de altas figuras chinesas nos Panama Papers.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, comentou pela primeira as revelações dos Panama Papers, descrevendo estas publicações como uma tentativa para desestabilizar a Rússia, uma vez que, na sua opinião, não existem provas de que existam casos de corrupção.
Numa conferência em São Petersburgo, Putin chamou a atenção para o facto de o seu nome nunca ser referido nos mais de 11 milhões de documentos divulgados no início da semana pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI), acusando os jornalistas de fazerem alegações contra os seus “amigos e conhecidos”, em vez de confirmarem as informações. “Os nossos adversários estão, acima de tudo, preocupados com a união e a consolidação da Nação Russa. Eles estão a tentar atingir-nos por dentro, para nos tornarem mais maleáveis”, afirmou às agências russas.
Vladimir Putin saiu em defesa de Sergei Roldugin, uma figura que lhe é bastante próxima e que, segundo o jornal The Guardian, está ligada a empresas com offshores no valor de dois mil milhões de euros. O Presidente russo disse que Roldugin não fez nada de errado e afirmou estar “orgulhoso de ter amigos assim”. Reiterou ainda a importância do seu amigo no desenvolvimento de projectos culturais para a Rússia, afirmando que este terá investido grande parte do seu dinheiro na aquisição de instrumentos musicais.
Também o porta-voz do Presidente, Dmitry Peskov, citado pela Reuters, criticou a divulgação dos documentos, considerando-os como resultado de “putinofobia”, afirmando que muitos dos jornalistas envolvidos na investigação são “antigos funcionários de departamentos de Estado e da CIA, assim como de serviços de inteligência”.
Contudo, a verdade é que a quantia de dois mil milhões de euros terá saído directamente dos bancos estatais russos para empresas offshores ligadas ao famoso violoncelista, incluindo uma nas Ilhas Virgens Britânicas, tendo sido posteriormente utilizado para gerar enormes fortunas para pessoas próximas do Presidente russo.
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Censura na China
A China também reagiu à divulgação destes milhões de documentos, tendo optado por censurar as redes sociais e os vários sites que fazem referência ao envolvimento do país nos Panama Papers. A BBC e a CNN estão bloqueadas desde o início da semana, e o The Guardian esteve parcialmente bloqueado durante esta quinta-feira.
Esta acção do Governo chinês surge na sequência de ter sido divulgado que quase um terço das empresas offshore expostas pelos Panama Papers ter origem em Hong Kong e na China. Para além disso, três dos sete membros actuais do comité permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês, a cúpula do poder na China, terão colocado os seus bens em paraísos fiscais.
Para além dos membros do Politburo, são também referenciadas pessoas próximas do Presidente Chinês, incluindo o marido da sua irmã mais velha, o que constitui um enorme golpe para o executivo de Xin Jinping que, após chegar ao poder, lançou uma campanha mediática anticorrupção.
Willy Lam, professor da Universidade Chinesa de Hong Kong e especialista em política chinesa, referiu que as revelações que envolvem nomes próximos do Presidente chinês poderão causar-lhe enormes danos políticos, apesar de avisar que Pequim deverá tentar justificar a divulgação destes documentos ocmo uma “conspiração do Ocidente para prejudicar a reputação do partido.
“Xi Jinping está sob muita pressão, incluindo pedidos para a sua demissão. É possível que os inimigos dentro do partido, muitos deles com altos cargos, possam utilizar este material para danificar a sua reputação. Não conseguiremos assistir de fora, mas dentro do partido as traições e lutas internas podem ser agravadas”, afirmou Lam ao The Guardian.