Mais uma variação de Philippe Garrel sobre a vida, o amor e o cinema
É difícil sentir grande entusiasmo pelos artistas idealistas envolvidos em triângulos amorosos pouco românticos.
Ainda não há muito tempo falávamos de Arnaud Desplechin como representante de um certo “cânone” do cinema francês de autor, e aqui temos um outro digno representante da tradição, Philippe Garrel, com a sua mais recente variação sobre o tema recorrente da relação entre a vida e o amor e o cinema. Nada de mal em variações sobre o tema, mas À Sombra das Mulheres, mais seco e menos leve que o anterior Ciúme (2013), apenas confirma a impressão que o cinema de Garrel nos deixa já há alguns anos, de alguém que trabalha sossegadamente no seu cantinho para si e para aqueles que gostam.
É uma postura legítima, mas para aqueles a quem o seu cinema pouco diz – como é o nosso caso – é difícil sentir grande entusiasmo pelos artistas idealistas envolvidos em triângulos amorosos pouco românticos de À Sombra das Mulheres, ambientados como sempre numa Paris fetichizada de mansardas e cafés filmada em sumptuoso preto e branco, e sobretudo quando no “centro” do filme está uma personagem tão desagradável como a de Stanislas Merhar.