Manual Prático do Tipógrafo: a tipografia chegou ao século XXI

O Clube dos Tipos e a Tipografia Dias preparam-se para lançar o Manual Prático do Tipógrafo, impresso integralmente com esta técnica tradicional. Uma forma de "criar paixão" por esta arte

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Pedro Amado

Joana Monteiro não vê as letras como letras. Talvez por defeito da profissão, a designer gráfica observa-as como formas, gaba-lhes o desenho. “Tenho letras preferidas: o R, o A.” “Em caixa alta ou caixa baixa?”, pergunta a jornalista, apropriando-se da gíria do jornal — algo perfeitamente compreensível para a interlocutora, ou não trabalhasse ela com tipografia tradicional, berço destas e de outras nomeadas. “Caixa alta.” Maiúscula, isto é. 

Será, certamente, apenas uma das muitas expressões de outrora presentes no Manual Prático do Tipógrafo que o coimbrão Clube dos Tipos, de Joana Monteiro, e a alfacinha Tipografia Dias se preparam para lançar. Será um livro para ser usado no contexto dos “workshops” de tipografia que as duas oficinas promovem regularmente, adaptando as lições aos dias de hoje. Aí, os aprendizes têm contacto, pela primeira vez, com os tipos, os caracteres, as máquinas, a impressão, a toda uma herança de Gutenberg. “Queremos criar paixão pela técnica, descrever os instrumentos que são usados, dar dicas que facilitem o trabalho de composição”, conta Joana, que promove estas iniciativas em articulação com a Tipografia Damasceno, que mantém esta actividade tradicional desde 1969.

É lá, aliás, com a perícia de Rui Damasceno que está a ser impresso o Manual. “A nossa missão”, conta a designer de 39 anos, “também é construir um livro todo do princípio ao fim em tipografia tradicional”. O que também traz percalços, como quando, a dada altura, se aperceberam que não existiam tipos suficientes de determinada família. Foi preciso ir a outra gráfica antiga de Coimbra pedir uma caixa.

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Tipografia Dias

“O objecto está a dar-nos imenso gozo. Acho que vamos conseguir criar algo que tem uma função didáctica e que também é muito bonito.” Avisa-se já que não vai estar à venda: será apenas para ser usado nestes novas oficinas de tipografia. O que Joana está a equacionar é uma campanha contra o “universo capitalista”: em troca de manual antigo de tipografia, uma ilustração, uma fotografia ou um qualquer outro objecto interessante, dá o manual. Serão feitos mil exemplares com a chancela Editora dos Tipos, criada especificamente para o efeito.

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Pedro Amado

Tipografia: um contraponto à internet

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Pedro Amado

O Clube dos Tipos foi criado em 2013 em Coimbra por Joana Monteiro e Paul Hardman, que entretanto se afastou. Dedica-se a projectos comerciais e de autor, promovendo também oficinas de tipografia e outras actividades educativas à volta desta arte tradicional, sempre em colaboração com a cúmplice Tipografia Damasceno. A próxima oficina é já a 23 de Abril. Tem corrido bem, diz Joana: “A verdade é que há muitas pessoas a querer voltar para a tipografia e a querer experimentar, em contraponto com o ‘boom’ da internet.” Talvez por isso tenham aparecido outros projectos de cariz semelhante, como a supracitada Tipografia Dias e a Quadratim Letterpress, em Setúbal.

A designer não prescinde do computador (“é mais uma ferramenta”), mas reconhece que há um certo encanto pela tipografia tradicional. “O fascínio das pessoas também vem de descobrir o porquê das coisas. De onde vêm determinadas palavras, por exemplo.” Como... caixa alta e caixa baixa.

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