Amar por mar e ar

Seid Mustafa tornou-se pirata do ar por um amor que voara muito antes dele.

Não liguem à cacofonia do título, mas a realidade tem destas coisas. Já se sabe que o amor leva muitas vezes a actos extremos, ousadias, loucuras, crimes. Vejam a vida. Ouçam o fado. Mas o que não é comum é juntarem-se, numa mesma semana, casos destes. Vejamos o que fizeram Seid Eldin Mustafa (no ar) e Susan Brown (no mar) e os que os traz para aqui.

Seid Mustafa, egípcio, obrigou um avião da Egyptair, um Airbus-320 que voava de Alexandria para o Cairo, a desviar-se para Chipre. Alegou ter um cinto de explosivos (e tinha, mas os “explosivos” eram armações para telemóvel) e exigiu que lhe fizessem a vontade. Fizeram, e alguns até quiseram fotografar-se com ele. Uma animação. Quando chegou ao ambicionado destino, entregou-se. Em tempos tão conturbados, houve quem gritasse: “Um terrorista”. Mas o ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio prontificou-se a corrigir: “Um idiota”. Seid queria apenas, imaginem, contactar com a ex-mulher, que vive na cidade onde o avião forçadamente aterrou (Larnaca), ou entregar-lhe uma carta que trazia consigo. Seid Mustafa não estava isento de culpas anteriores (pequenos delitos, roubos, falsificações, drogas), mas este foi o seu crime maior: tornar-se pirata do ar por um amor que já voara muito antes dele.

Já a história de Susan Brown, 65 anos, britânica natural de Bristol, é, por assim dizer, mais salgada. Chegara, com o marido, à Madeira, num navio-cruzeiro vindo das Caraíbas. Se tudo corresse bem, terminariam as férias em Bristol, depois de uma passagem por Lisboa. Mas não correu. Desentenderam-se e decidiram voltar para casa de avião. Só que, no aeroporto, ela procurou o marido e não o viu. E pensou que ele mudara de ideias, retomando o cruzeiro. Mas quando viu, ao largo, o navio onde pensava estar o marido, atirou-se ao mar para tentar alcançá-lo. Três horas depois, por sorte, um barco de pescadores deu com ela e salvou-a, exausta e com sinais de hipotermia. Ninguém lhe chamou idiota. Que dizer de amores assim?

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