No Partido Republicano já ninguém apoia ninguém

Os três candidatos recuaram na promessa de se apoiarem mutuamente nas eleições gerais contra o nome escolhido pelo Partido Democrata. Donald Trump é o que causa mais desconforto.

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Donald Trump Darren Hauck/Getty Images/AFP
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Ted Cruz Darren Hauck/Getty Images/AFP
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John Kasich Ben Brewer/Reuters

A escolha do nome que vai representar o Partido Republicano na corrida à Casa Branca ficou ainda mais complicada esta semana, depois de os três candidatos terem recuado nas suas promessas de apoiarem o nomeado quando chegarem as eleições gerais, em Novembro.

Numa campanha em que o único indicador que tem subido é o dos golpes baixos, Donald Trump foi o mais incisivo. Questionado na CNN pelo jornalista Anderson Cooper sobre se apoiará o senador Ted Cruz ou o governador John Kasich se qualquer um deles for nomeado na convenção do Partido Republicano, em Julho, o magnata do imobiliário e estrela da televisão dificilmente poderia ter sido mais directo: "Não."

"Tenho sido tratado muito injustamente pelo Comité Nacional Republicano, pelo establishment", disse Trump, numa referência a uma campanha que está em marcha no interior do partido para tentar impedi-lo de sair da convenção como o candidato oficial à Casa Branca.

As declarações e as propostas polémicas de Donald Trump (desde a construção de um muro na fronteira com o México até à suspensão temporária da entrada de qualquer muçulmano nos EUA), e a sua fragilidade nas sondagens sobre uma possível corrida contra os candidatos do Partido Democrata, Hillary Clinton ou Bernie Sanders, deram origem a um movimento no Partido Republicano para lhe fechar as portas da nomeação.

Quem tem medo de Donald Trump, Donald Trump, Donald Trump?

Segundo os ideólogos e os financiadores deste movimento, encabeçado por nomes como Mitt Romney (que perdeu as eleições em 2012 contra Barack Obama), o partido está hoje dividido entre o republicanismo e aquilo a que chamam o "trumpismo" – uma linha "que tem sido associada ao racismo, à misoginia, à intolerância, à xenofobia, à vulgaridade e, mais recentemente, a ameaças e violência", escreveu o próprio Mitt Romney na sua página no Facebook.

This week, in the Utah nominating caucus, I will vote for Senator Ted Cruz. Today, there is a contest between Trumpism...

Posted by Mitt Romney on Friday, March 18, 2016

A tensão no Partido Republicano aumentou na última semana, depois de um dos grupos anti-Trump ter publicado um anúncio de campanha no estado do Utah, profundamente conservador, onde se vê a mulher do magnata, Melania Trump, sem roupa num ensaio fotográfico. Em resposta, Donald Trump ameaçou fazer revelações sobre Heidi Cruz, mulher do seu adversário Ted Cruz, que o magnata acusa de ser o responsável pelo anúncio – poucos dias depois, a revista National Review publicou um artigo sobre a vida amorosa de Cruz, acusando-o de ter mantido relacionamentos extraconjugais com pelo menos cinco mulheres.

Foi neste ambiente que os três candidatos chegaram na terça-feira a um encontro com os eleitores do Milwaukee, no estado do Wisconsin, para uma série de perguntas e respostas moderada e transmitida pelo canal CNN. Um mês depois de todos terem prometido apoiar quem quer que seja nomeado na convenção, a pergunta impunha-se: "Ainda mantém essa promessa?"

Se Trump foi rápido e directo, Cruz e Kasich foram mais vagos, mas deixaram pouco espaço para que se chegue a uma conclusão diferente do rotundo "não" atirado pelo magnata.

"Não costumo apoiar alguém que ataca a minha mulher, a minha família. Isso ultrapassa todos os limites. Acho que as nossas mulheres e os nossos filhos devem ficar fora disto", disse Ted Cruz, voltando a insinuar que foi Donald Trump quem fez chegar os rumores sobre a sua vida pessoal aos principais jornais norte-americanos.

"Tenho ficado perturbado com algumas coisas que vejo. Tenho de reflectir sobre o que significaria a minha palavra de apoio numa campanha presidencial. Se o nomeado for alguém que eu acho que está a prejudicar e a dividir país, não posso apoiá-lo", respondeu John Kasich – em meados de Março, quando houve confrontos físicos num comício de Donald Trump em Chicago, o governador do Ohio disse que o magnata criou "um ambiente tóxico" e que se "aproveita dos medos das pessoas".

Donald Trump lidera a corrida no Partido Republicano com 736 delegados, contra os 463 de Ted Cruz e os 143 de John Kasich. Para que um dos candidatos chegue à convenção com a nomeação garantida, precisa de conquistar pelo menos 1237 delegados – uma maioria, e não apenas a pluralidade.

Se esse cenário não se concretizar, Donald Trump diz que o partido tem, ainda assim, a obrigação de apoiá-lo se ele tiver mais delegados do que qualquer um dos seus adversários. Mas o mais provável é que durante a convenção haja mais do que uma votação, até que um dos candidatos atinja os 1237 delegados necessários.

Ted Cruz é o sapo que o Partido Republicano pode ter de engolir

Depois da primeira votação, em que os delegados têm de se manter fiéis à orientação que receberam dos eleitores nos seus estados, haverá uma guerra aberta para tentar convencer muitos deles a mudarem de campo, o que poderá até culminar com a nomeação de Ted Cruz, John Kasich ou um outro nome proposto durante a convenção, se na altura o partido sentir que precisa de outra pessoa para unir os seus apoiantes – os mais falados são Mitt Romney e o actual presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan. 

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