Bruxelas continua magoada mas não esquece
Uma semana depois dos atentados, a cidade tenta retomar as suas rotinas. A medo e ainda com dor.
Há uma semana, por esta hora, já não se podia caminhar por esta rua. Uma bomba tinha explodido na estação de metro de Maelbeek pelas nove horas da manhã e a Rue de la Loi estava interdita.
Agora, à medida que se faz o caminho em direcção ao edifício principal da Comissão Europeia - um percurso de cerca de 5 minutos - não dá para esquecer o que aqui se passou. Há imensas flores, principalmente amarelas, inúmeras velas e até peluches no chão. Lê-se ainda um cartão com uma mensagem em vermelho "Why? Porquoi? Warum?"
Há ainda desenhos em papel que parecem ter sido feitos por crianças. As paredes de alguns edifícios estão também marcadas por mensagens a giz rosa, branco e amarelo, iluminando os blocos cinzentos. Há uma em português: "Não ao terrorismo. Queremos paz e união."
O frenesim de mais um dia de trabalho na capital não passa intacto. Quem aqui passa, por mais acelerado que vá, abranda o ritmo à medida que se aproxima da entrada para a estação de metro.
Uma cidadã polaca pára por alguns segundos. Antes de seguir caminho, diz que está ainda chocada com o que aconteceu. "Sabíamos que podíamos ser o próximo alvo, mas mantínhamos isso fora da cabeça." A tradutora conta que desde os ataques terroristas, que vitimaram 35 pessoas, não apanhou novamente o metro e vai continuar a evitá-lo sempre que puder. "Não podemos parar com as nossas vidas. Mas adaptei a minha rotina."
Os residentes de Bruxelas não escondem os seus sentimentos e tentam lembrar as vítimas com diversos gestos. Uns metros mais à frente, há várias bandeiras belgas a colorir as varandas dos poucos apartamentos que se situam nesta zona da cidade. Ainda na Rue de la Loi, nas grades de um parque, voltam a estar mais flores e mais mensagens de força. "I love Brussels (Eu amo Bruxelas)", diz uma delas.
Mesmo que haja quem altere pequenos hábitos, que o aeroporto continue fechado, que o metro não funcione durante a noite, a rotina - de uma forma ou de outra - continua. Comércio e serviços estão abertos e o movimento nas ruas é o habitual. Bruxelas está magoada, não esquece, mas continua a viver.