Garry Shandling, criador de uma das comédias televisivas mais influentes das últimas décadas, o Larry Sanders Show, morreu em Los Angeles aos 66 anos de idade. As redes sociais encheram-se de testemunhos de colegas aclamando o comediante, actor e argumentista, como uma das vozes mais inovadoras da comédia americana, primeiro nos palcos em espectáculos de stand-up durante a década de 1980 e depois na televisão durante os anos 1990. Ricky Gervais chamou-lhe “um dos comediantes mais influentes de uma geração” e Seth MacFarlane, criador de Ted e Family Guy, disse tratar-se de um dos seus “grandes ídolos”.

The Larry Sanders Show, o olhar meta-ficcional sobre o próprio mundo da televisão que manteve no canal HBO ao longo de 89 episódios entre 1992 e 1998, ganhou três prémios Emmy num total de 56 nomeações – 18 das quais para o próprio Shandling, no papel-título de Larry Sanders, anfitrião de um talk-show televisivo. Embora a sua audiência estivesse limitada aos subscritores do canal por cabo, a “herança” do Larry Sanders Show transpirou para muita da comédia televisiva contemporânea – Entourage, Extras, Curb Your Enthusiasm ou, sobretudo, Rockefeller 30 não teriam sido possíveis se não tivesse havido antes o olhar abrasivo de Shandling sobre os bastidores da televisão americana. Que, como o próprio admitiu, se alimentava grandemente da sua própria experiência conduzindo o lendário Tonight Show sempre que Johnny Carson não estava disponível. O comediante, aliás, chegou a estar na corrida para tomar as rédeas do programa após a retirada de Carson.

The Larry Sanders Show não foi a única comédia de Shandling a quebrar as convenções do humor televisivo – antes, houvera It's Garry Shandling's Show, onde as personagens assumiam abertamente o facto de serem personagens de uma série televisiva, emitida no canal Showtime entre 1986 e 1990.

Natural de Chicago mas radicado no Arizona por motivos familiares, Shandling mudou-se para Los Angeles no início da década de 1970, e começara por ser guionista em séries como Sanford & Son ou Welcome Back, Kotter. Na sequência de um acidente de viação em Beverly Hills em finais da década de 1970, deu uma guinada para a comédia stand-up, onde criou uma imagem de figura neurótica e obsessiva. Conhecido por ser “comediante de comediantes”, mais reconhecido pelos colegas do que pelo grande público e de presença geralmente discreta (mantinha a sua vida pessoal resolutamente privada e nunca casou), Shandling não fez carreira no cinema, embora tenha emprestado a voz a filmes de animação como Pular a Cerca ou feito participações pontuais em filmes como Zoolander ou Homem de Ferro 2. Mesmo na televisão, apesar das várias vezes que apresentou a cerimónia dos Grammy, bastaram o Larry Sanders Show e It's Garry Shandling's Show para o tornar numa figura de enorme influência.

Embora a família não tenha divulgado para já mais pormenores, Shandling terá morrido no hospital para onde foi transportado pelos serviços de emergência depois de ter sofrido um ataque cardíaco em sua casa.