Três notas sobre Bruxelas
Ainda vamos assistir a mais atentados deste tipo? Certamente que sim. É previsível que a sua cadência aumente ao longo dos anos? Acredito que não.
1. Aquilo que aconteceu em Bruxelas é suficientemente trágico para não precisar que abusemos nós da tragédia, alimentando um tom apocalíptico que não aproveita a ninguém. Há que manter a cabeça fria: três atentados na Europa em 15 meses, que provocaram um total de 180 mortos, não irão mudar o nosso modo de vida. É claro que teremos de aprender a viver com isto, que as bombas continuarão a rebentar, que iremos ser mais vigiados do que gostaríamos, que a nossa liberdade de movimentos estará mais limitada e que os doces anos 90 não vão voltar. Mas passar daí para a histeria e para uma autoflagelação cega é um absurdo.
A Al-Qaeda já viu melhores dias. Os talibãs já viram melhores dias. E, muito em breve, o Estado Islâmico também terá visto melhores dias. A razão é simples: há uma imensa desproporção de meios entre o ocidente e os fundamentalistas islâmicos. De cada vez que dois ou três terroristas europeus decidem fazer-se explodir, a força do Estado Islâmico na Europa não aumenta – diminui. Esses terroristas são identificados, as suas células desmontadas, as suas redes de contacto analisadas, os seus centros de recrutamento detectados, e não me parece que por cada bombista francês ou belga que vá pelos ares surjam de imediato dois ou três terroristas franceses ou belgas a quererem ir pelo mesmo caminho. O recrutamento, a doutrinação e a indiferença à morte demoram tempo a cultivar – e o tempo não corre a favor do Estado Islâmico. Ainda vamos assistir a mais atentados deste tipo? Certamente que sim. É previsível que a sua cadência aumente ao longo dos anos? Acredito que não.
2. Ao dizer isto não tenho a intenção, como é óbvio, de desvalorizar os erros que têm sido cometidos ao longo dos anos, desde logo ao deixar que a Síria se transformasse num campo de treino para a radicalização de cidadãos europeus. O Estado Islâmico não pode ter um território onde instalar as suas bases. Ao mesmo tempo, a velha ideologia multiculturalista da Europa endinheirada tem de ser profundamente revista. Parece cada vez mais claro que os europeus despejaram subsídios em cima das comunidades magrebinas para as manterem à distância. Ou seja, o que sobrou em dinheiro faltou em integração. É curioso olhar para os Estados Unidos e ver o contrário: o estado americano subsidia menos, mas o país integra mais. Como ontem dizia o ministro do Interior belga, nos Estados Unidos a segunda geração de emigrantes pode ambicionar chegar a presidente (não é ficção: basta olhar para as origens de vários candidatos republicanos), enquanto na Europa a quarta geração anda a fazer-se explodir e a sonhar com califados.
3. Sobre os atentados de Bruxelas, o deputado do PCP Miguel Tiago escreveu o seguinte: “Tal como a pobreza, a fome, o desemprego, os baixos salários, a criminalidade, a guerra, a degradação cultural, artística, social e ambiental, também o terrorismo é resultado da acção dos NOSSOS governos. Se queremos resolver o terrorismo, temos de acabar com a política de direita aqui.” Adoro: vai-se a ver, e a culpa do fundamentalismo islâmico é do Friedrich Hayek. Só mesmo um deputado do PCP com um corpo nascido em 1979 mas uma cabeça burilada em 1934 é que me conseguiria pôr a rir num dia tão triste. Obrigado, Miguel, e ainda bem que o António, o Jerónimo e a Catarina deram cabo das políticas de direita para todo o sempre. Assim estamos a salvo do terrorismo. Ufa.