Ver, ouvir, cheirar e sentir Caravaggio
Experiência Caravaggio é uma instalação multimédia inaugurada esta quinta-feira em Roma. Promete ser “uma experiência sensorial total” pela obra deste nome maior da pintura universal.
Se é verdade que nada poderá substituir a experiência de ver ao vivo, e de perto, as obras originais, o Palácio de Exposições de Roma acredita que é possível aproximar e mobilizar as pessoas para o património universal da pintura de formas diferentes das tradicionais visitas guiadas aos museus. E assim lançou esta semana a Experiência Caravaggio, uma inovadora instalação videográfica que se propõe fazer entrar os seus visitantes-espectadores no universo fascinante e único da obra deste grande nome da pintura mundial.
Inaugurada esta quinta-feira, a Experiência Caravaggio mostra aos visitantes, a partir de uma bateria de 33 projectores de vídeo, uma sequência de 57 telas do pintor que, tendo vivido entre 1571 e 1610, fez a transição do maneirismo para o barroco, e que muitos historiadores vêem mesmo como um dos fundadores da pintura moderna.
A exposição – diz a organização – é “uma experiência sensorial total”. Não se trata apenas de mostrar quadros tão icónicos como David com a cabeça de Golias, Judite e Holofernes, Flagelação de Cristo, A Deposição, ou Jogadores de cartas, Os músicos e Cabeça de medusa, mas de lhes acrescentar uma banda sonora, e também derramar perfumes adequados às cenas representadas.
A Experiência Caravaggio é “uma instalação-espectáculo, onde ensaiamos uma espécie de encenação teatral da obra” do pintor, explicou à AFP Stefano Fomasi, o vídeo-artista autor da instalação e membro da equipa The Fake Factory, com sede em Florença, produtora do evento.
O objectivo dos autores é levar o público a “participar numa espécie de rito colectivo, numa imersão na arte, de forma a tornar-se também protagonista da obra”, acrescenta Fomasi, acreditando que essa experiência levará o espectador a querer, futuramente, ir ver os originais de Caravaggio (e Roma é, sem dúvida, o lugar certo para essa experiência – essa sim, real – de ver os originais do pintor, que estão dispersos por lugares tão diversos como os museus do Vaticano e Capitolino, as galerias Borghese e Doria Pamphilij, as igrejas de Santa Maria del Popolo e S. Luís dos Franceses, ou os palácios Corsini e Barberini).
Com uma duração de 50 minutos, esta “visita guiada” pela obra de Caravaggio disseca as suas telas em enquadramentos e grandes planos que detalham pormenores – mãos, rostos, instrumentos, armas… –, explicam temas e técnicas. “Assim, os espectadores podem ver a olho nu aquilo que, num museu, só poderiam ver ao microscópio”, diz à AFP Claudio Strinati, historiador de arte que integra a equipa The Fake Factory, e que classifica esta viagem igualmente como “uma experiência quase científica”.
É também esse o objectivo da música composta por Stefano Saletti, que quis não apenas criar “uma moldura para os quadros”, mas simultaneamente sugerir uma panóplia de sensações, nomeadamente sublinhando “os contrastes”, as técnicas da iluminação e “o jogo claro-escuro” que marca a pintura de Caravaggio.
Na descrição que faz da inauguração da Experiência Caravaggio, a AFP cita o exemplo do tratamento do quadro Cabeça de medusa, de onde “saem milhares de serpentes rastejando pelas paredes e pelo chão parecendo ir asfixiar o espectador, antes que o sangue que jorra da cabeça preencha todo o quadro”.
O que parece não funcionar de acordo com o prometido – ainda segundo a reportagem da AFP – é o efeito sensitivo, já que os perfumes lançados “não correspondem de modo nenhum aos objectos ou aos personagens dos quadros”: não se sente o cheiro das maçãs, o suor dos homens ou a bosta de cavalo...
A Experiência Caravaggio vai ficar no Palácio de Exposições de Roma até 3 de Julho, sendo depois transferida para Nápoles, no Outono. Para o próximo ano está prevista a sua itinerância internacional.
Os Caravaggio verdadeiros, esses vão continuar em Roma.