"Circulem, ninguém pode ficar aqui"

Depois da captura, em Bruxelas, de Salah Abdeslam, as autoridades disseram que o puzzle estava longe de concluído. Esta terça-feira, foram acrescentadas mais peças, sangrentas.

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EMMANUEL DUNAND/AFP

Os habitantes de Bruxelas foram surpreendidos pelas sucessivas explosões, aumentando o sentimento de insegurança. "Estava a ver as imagens da explosão no aeroporto quando senti uma deflagração", conta Chris Vanden Plas, funcionário da Comissão Europeia que trabalha num edifício por cima da estação de metro de Maelbeek, onde se terão registado duas explosões.

Confessando ainda estar a tremer, o funcionário do departamento da Agricultura viu pessoas a fugirem da estação, em choque e a receberem os primeiros socorros nas imediações.

Neste "coração" europeu de Bruxelas, onde estão localizados as sedes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu encontraram-se pessoas em lágrimas, com as roupas sujas de pó, com os cabelos chamuscados e expressões de choque.

Também havia alívio, como testemunhou a agência Lusa  quando uma mulher reconheceu uma amiga já fora do perímetro de segurança imposto pelas forças policiais, na zona junto a um jardim e com um enorme lago, a praça Marie Louise. "Graças a Deus, ela está viva", suspirou a mulher, correndo para abraçar a amiga.

O acordar desta terça-feira em Bruxelas foi em sobressalto, primeiro com as imagens de destruição causadas por uma explosão no aeroporto da cidade, localizado a cerca de 15 quilómetros do centro, pelas 8h locais (7h de Lisboa). Quando se tentava perceber as causas da explosão, se havia vítimas e se em causa estava o terrorismo, cuja ameaça tem pairado nos últimos meses, começou a circular a informação de detonações no metro de Maelbeek.

Nesta estação encostada à de Schuman, que serve as sedes da Comissão e do Conselho, o trânsito deixou de circular e o que mais enchia o ambiente eram os barulhos de um gigantesco aparato policial e das organizações de socorro montado.

A Lusa viu pessoas a serem transportadas de maca para as ambulâncias, cujo número se foi multiplicando à medida que o tempo passava. Depressa, o som de helicóptero também se juntou às ordens dos agentes policiais, que gritavam: "Circulem, circulem, ninguém pode ficar aqui".

Na desorientação instalada, por falta de informação das autoridades no terreno, o perímetro de segurança foi alargado uma segunda vez, com a polícia a intensificar as ordens gritadas e a empurrar jornalistas, curiosos e quem queria saber mais.

Ao telefone, um jovem tentava falar com o seu amigo, que tinha fugido da estação de metro para a Praça Jourdan, nas imediações. "Ele contou-me que ouviu uma explosão, dentro do metro, sentiu um vento na cara e ficou coberto de sangue", diz à Lusa.

No local, multiplicam-se e cruzam-se informações sobre o número de mortes a aumentar no aeroporto e ali, a algumas dezenas de metros, na estação de Maelbeek.

A ameaça do terrorismo começou a ser sentida em Bruxelas depois das informações de que os envolvidos nos atentados de 13 de Novembro em Paris poderiam ter viajado para ali. A cidade foi "fechada", as pessoas convidadas a ficar em casa e a comuna de Molenbeek (que faz parte da região da grande Bruxelas) foi alvo de raides policiais, às vezes mais de uma vez por dia.

Na semana passada, foi a vez de Forest, onde polícia belga e francesa foi recebida com tiros quando preparavam uma operação de rotina.

Objectos ligados ao grupo terrorista Estado Islâmico e impressões digitais de um dos homens mais procurados na Europa, Salah Abdeslam, fizeram soar novas campainhas. Na sexta-feira, Abdeslam, acusado de perpetrar os ataques de Paris, era finalmente detido.

Mas as autoridades avisavam que ainda se estava longe de concluir o puzzle. E hoje foram acrescentadas mais peças a esse puzzle sangrento.