Piloto ucraniana cometeu crime de "ódio e inimizade", diz tribunal russo
O veredicto e a sentença devem ser conhecidos terça-feira. A defesa de Nadejda Savchenko deposita as suas esperanças numa troca de prisioneiros.
A justiça russa iniciou esta segunda-feira a leitura do veredicto de Nadejda Savchenko, piloto ucraniana acusada da morte de dois jornalistas russos no Leste da Ucrânia. O juiz, Leonid Stepanenko, afirmou no tribunal da cidade russa de Donetsk que Savchenko “assassinou deliberadamente duas pessoas, agindo de acordo com uma conspiração motivada por ódio e inimizade”. Savchenko deverá conhecer a sua sentença terça-feira.
Durante a primeira sessão,Savchenko revelou-se desafiadora perante o tribunal russo e exigiu regressar à Ucrânia. “Ou vou para a Ucrânia ou morro na prisão. Esses estupores podem ir para a Sibéria”, disse a piloto, citada pela AFP.
Savchenko, de 34 anos, rejeita as acusações de que é alvo e afirma ter sido capturada por milícias pró-russas perto de Lugansk, uma hora antes do ataque que matou os dois jornalistas russos. A equipa de defesa afirma que o registo do telemóvel de Savchenko confirma esta versão, o que deveria levar à sua libertação no âmbito dos acordos de Minsk. Contudo, a justiça russa não aceita esta versão, rejeitando a atribuição do estatuto de prisioneira de guerra à piloto.
Uma delegação de diplomatas ucranianos deslocou-se à cidade que faz fronteira com a Ucrânia para assistir ao julgamento, e uma deputada, Irina Guerachtchenko, foi impedida de entrar na Rússia, numa decisão que promete aumentar ainda mais a tensão entre Kiev e Moscovo. “Como me foi explicado, estou interdita de entrar na Rússia porque represento uma ameaça à integridade territorial, à segurança nacional e à saúde dos seus cidadãos”, escreveu a deputada na sua página do Facebook.
A equipa de defesa não está optimista, prevendo já uma sentença de vários anos de prisão para a piloto ucraniana - a acusação pede 23 anos. “Savchenko será condenada a várias décadas, disso não há dúvida”, afirmou Mark Feigin, um dos advogados, citado pela AFP, que denuncia uma “máquina de propaganda em acção” e uma “falta de justiça e liberdade”.
A equipa deposita as suas esperanças num eventual acordo de troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia, o que poderá ser bastante difícil tendo em conta a intransigência de Moscovo. Contudo, a AFP avança com a possibilidade de dois homens capturados pelas forças ucranianas e apresentados por Kiev como membros dos serviços secretos militares russos poderem ser a moeda de troca.
O caso de Savchenko tem despertado a atenção do Ocidente, sucedendo-se os pedidos de libertação da piloto. A representante da política externa europeia, Federica Mogherni, apelou à libertação “imediata e incondicional”, enquanto a embaixadora norte-americana para as Nações Unidas, Samantha Power, descreveu o julgamento como uma “farsa”.
Detida há 21 meses, Savchenko tem desafiado abertamente o poder russo ao longo da sua detenção e do seu julgamento, o que tem contribuído para que a sua popularidade tenha aumentado na Ucrânia, onde é vista por muitos como uma heroína nacional, enquanto símbolo da resistência anti-Kremlin. Depois de ter sido detida pelas autoridades russas, foi eleita simbolicamente deputada para o Parlamento ucraniano e para o Conselho da Europa. Entre Dezembro de 2014 e Março de 2015 fez três greves de fome, tendo estado mais de 80 dias sem comer. No início de Março deste ano, parou a sua alimentação e hidratação durante sete dias.
As relações entre Kiev e Moscovo estão praticamente congeladas desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014. Os acordos de Minsk têm-se revelado insuficientes para pôr fim à escalada de violência no Leste da Ucrânia, onde já morreram mais de nove mil pessoas num conflito entre Governo e separatistas pró-russos.