A sem-abrigo de nariz empinado

Mesmo com a grande Maggie Smith, A Senhora da Furgoneta podia ser um telefilme que não se perdia nada.

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Maggie Smith retoma em A Senhora da Furgoneta uma personagem que criou há 15 anos nos palcos de Londres

Maggie Smith retoma em A Senhora da Furgoneta uma personagem que criou há 15 anos nos palcos de Londres: Miss Shepherd, uma sem-abrigo de nariz empinado que existiu realmente, montando residência frente às moradias do bairro londrino de Camden Town numa furgoneta mais para lá do que para cá, e que se instalou durante 15 anos frente à garagem do dramaturgo Alan Bennett.

A história da amizade relutante entre o escritor introvertido e a sem-abrigo mandona começou por ser uma pequena memória publicada em livro por Bennett, que depois se transformou em peça teatral e, finalmente, chega ao cinema num daqueles filmes de eficiente factura britânica, dirigido pelo veterano encenador teatral Nicholas Hytner (A Loucura do Rei George, 1994) – que já encenara a versão de palco. Está tudo no sítio certo em A Senhora da Furgoneta, a começar pela performance imperiosa de Smith, que faz destas rezingonas com uma perna às costas; mas isso podia-se também dizer de mil outros filmes ingleses com a chancela da BBC. Ideia de cinema, mesmo, há só uma: a de “desdobrar” o Bennett do filme (interpretado com discrição por Alex Jennings) em dois, um que intervém na acção e outro que a comenta e serve de narrador. Mas é uma ideia de cinema que está (como sempre em muito do cinema inglês) ao serviço do texto e não quer ser mais do que mero registo de uma interpretação aclamada – não é bem teatro filmado, mas não anda muito longe disso. O profissionalismo de todos os envolvidos faz com que A Senhora da Furgoneta se veja com agrado enquanto dura, mas não é filme que deixe grande memória.

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