Linha do Norte vai ter investimento de 30,5 milhões mas comboios não vão andar mais depressa
Projecto entre Alfarelos e Pampilhosa prevê apenas a renovação integral de um dos troços mais degradados da Linha do Norte
Quando em 2005 o primeiro governo de Sócrates tomou posse, a então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, mandou parar o projecto de modernização da linha do Norte. Motivo: vinha aí o TGV e a ferrovia convencional ficaria relegada para segundo plano. Mas nos anos seguintes, a crise ditaria o fim da alta velocidade e condenaria o investimento no caminho-de-ferro a valores residuais. Agora, com troços completamente degradados na linha que é a coluna vertebral do sistema ferroviário português, é novamente um governo PS que retoma a modernização da linha do Norte.
Nesta terça-feira, o secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme W. D’Oliveira Martins, assinou em Alfarelos um contrato de obra de 30,5 milhões para renovar o troço de 35 quilómetros entre aquela estação e Pampilhosa.
Entre o projecto que existia em 2005 e o que agora se vai executar, a diferença é enorme: em vez de uma terceira via para aumentar a capacidade, em vez da rectificação do traçado para aumentar a velocidade, far-se-á apenas uma substituição integral dos carris, travessas e carris.
O contrato, adjudicado à Opway (empresa presidida por Almerindo Marques que já presidiu à Estradas de Portugal, que por sua vez faz hoje parte da adjudicante Infraestruturas de Portugal) prevê ainda a estabilização de taludes, melhoria do sistema de drenagem e instalação de vedações para impedir o acesso à via.
Para os passageiros da linha do Norte não haverá qualquer redução do tempo de percurso porque os comboios não passarão a circular ali com maior velocidade. Nem tão pouco está previsto o alteamento da plataforma de via na zona de Alfarelos, zona sujeita a inundações, como aconteceu há poucas semanas em que a linha do Norte ficou cortada naquela estação devido à subida do Mondego. Nesse aspecto tudo continuará com antes.
As melhorias serão ao nível da fiabilidade, uma vez que passará a haver menos atrasos, aumentando também a segurança para os passageiros pois o troço em causa está muito envelhecido.
A Infraestruturas de Portugal (que reúne a Refer e a Estradas de Portugal) anunciou que esta empreitada faz parte de um conjunto de investimentos na linha do Norte, com financiamento comunitário, que totalizam 400 milhões de euros e que deverão ser executados até 2020.
Para que o corredor ferroviário que liga Porto a Lisboa fique em condições de exploração homogéneas e se eliminem os constrangimentos ainda existentes na infra-estrutura, falta ainda renovar a via entre Ovar e Gaia (33 quilómetros) e entre Vale de Santarém e Entroncamento (40 quilómetros).
No total, e contando com o Alfarelos – Pampilhosa, são 108 quilómetros (um terço da linha do Norte) que ficaram à margem da modernização iniciada em 1996. É por isso que actualmente uma viagem no Alfa Pendular é um autêntico rally ferroviário com a composição a deslizar a 220 Km/hora em troços modernizados e a circular aos solavancos a 80 Km/hora noutras secções que estão há décadas sem qualquer investimento.