Transportes públicos ganham passageiros pela primeira vez desde 2011

No ano passado, a procura global nas seis empresas públicas do sector aumentou, rompendo com o ciclo negativo que se registava nos quatro anos anteriores.

Foto
Maior subida foi protagonizada pela Metro de Lisboa Enric Vives-Rubio

Depois de quatro anos consecutivos de quedas, muito associadas aos aumentos tarifários, à redução da oferta e à escalada do desemprego, os transportes públicos voltaram a recuperar passageiros no ano passado, rompendo com um ciclo de perdas que se registava desde 2011. Apesar de ténue, registou-se uma subida global de 0,6% no número de validações das seis empresas públicas do sector, apesar de duas delas, a STCP e a Transtejo, ainda não terem conseguido inverter os resultados negativos.

Os dados cedidos ao PÚBLICO pela Metro de Lisboa, Carris, Transtejo, Metro do Porto, STCP e CP mostram que, em 2015, foram vendidos 539 milhões de bilhetes, o que compara com 535,9 milhões do ano anterior. Em termos absolutos, o aumento global de 0,6% representou um acréscimo de 3,1 milhões no número de passageiros transportados. Tratou-se, por isso, de uma viragem na tendência que se vinha registando nos últimos anos, apesar de a procura continuar muito longe da verificada em 2011, ano em que houve 657,4 milhões de validações.

Ainda assim, é o primeiro ano nos últimos cinco em que estas empresas apresentam uma subida global no tráfego. Entre 2011 e 2012, a queda foi de 12,3% (menos 80,5 milhões de bilhetes vendidos), seguindo-se uma descida de 5,3% no ano seguinte (menos 30,5 milhões). Já em 2014, o recuo foi de 1,9%, correspondendo a uma diminuição de 10,5 milhões de validações, em termos absolutos. Ou seja, só entre 2011 e 2014, as transportadoras públicas perderam 121,5 milhões de passageiros. Um dado que o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, já tinha sublinhado no início deste mês, associando a fuga de clientes à redução “dramática” da oferta.

Foto

Os resultados do ano passado mostram, porém, que este ciclo negativo já foi invertido pela maioria das transportadoras do Estado. Apesar da recuperação global, há dois operadores públicos que ainda não recuperaram das perdas. A STCP, que gere a rede de autocarros no Porto, registou um recuo de 7,1% no número de validações, aprofundando ainda mais as quedas sentidas nos dois anos anteriores. Esta empresa, que desde 2012 foi parcialmente fundida com a Metro do Porto, vendeu 69,2 milhões de bilhetes no ano passado, após uma diminuição de 5,3 milhões. O mesmo aconteceu, embora em menor dimensão, com a Transtejo, que assegura as ligações fluviais no Tejo: a queda foi de 2% para 15 milhões (menos 300 mil viagens, em termos absolutos). E isto depois de ter registado um ligeiro crescimento (0,7%) em 2014.

A inversão das quedas generalizadas no sector só foi possível porque as restantes quatro empresas, que na sua maioria transportam mais passageiros, tiveram aumentos na procura. O mais expressivo foi protagonizado pela Metro de Lisboa, que, depois de quatro anos consecutivos de quedas que resultaram na perda de 43,8 milhões de validações entre 2011 e 2014, registou no ano passado uma subida de 3,7% no número de bilhetes vendidos, para um total de 140 milhões. O acréscimo, em termos absolutos, foi de cinco milhões.

Na CP, o aumento foi de 2% no ano passado, mantendo-se uma tendência que já verificava desde 2014. A operadora ferroviária do Estado transportou 112 milhões de clientes (mais 2,2 milhões do que no período homólogo). Já na Metro do Porto, a única transportadora pública que apresentava aumentos na procura desde 2013, a subida foi de 1,5% para 57,8 milhões. E, na Carris, 2015 foi um ano de inversão nas quedas dos últimos anos, com uma subida de 0,4% para 145 milhões (mais 600 mil validações registadas).

Os resultados conseguidos no ano passado não podem ser dissociados da redução gradual do desemprego, que atingiu recordes históricos precisamente nos anos de maior recuo da procura. Sobretudo nos centros urbanos, este fenómeno teve um impacto directo na mobilidade das pessoas. Além disso, as empresas têm vindo a aumentar a fiscalização, para reduzir a fraude, apesar de a cobrança de multas por parte do fisco não estar a ser feita há mais de dois anos.

Do lado das receitas operacionais, o aumento da procura também se fez sentir. Os resultados da Metro de Lisboa, Carris, Transtejo e CP (que a Metro do Porto e a STCP ainda não disponibilizaram) relativos ao ano passado mostram uma subida de 4,9% para 428,2 milhões de euros, ainda assim inferior ao aumento verificado em 2014 (5,7%). Já em 2012 tinha havido um acréscimo de 3,6%, seguido de uma queda de 1,3% no ano seguinte. Os aumentos tarifários decididos pelo anterior Governo PSD/CDS são uma das justificações apontadas para que a facturação se mantivesse em crescimento, apesar das sucessivas perdas de passageiros nos últimos anos. 

Sugerir correcção
Ler 2 comentários