Suinicultores protestam em Lisboa

Camiões vieram de vários pontos do país, sobretudo da zona do Oeste e da Margem Sul, e entupiram a Segunda Circular. Suinicultores concentraram-se em frente ao Ministério da Agricultura.

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Suinicultores dizem estar no limite de sobrevivência Reuters

“Mais de 300 camiões” de transporte de animais deslocaram-se nesta sexta-feira para Lisboa, tentando bloquear a capital, em protesto contra o colapso que ameaça o sector da suinicultura. Os camiões vieram de vários pontos do país, sobretudo do Oeste e da Margem Sul, e desejavam chegar ao Terreiro do Paço, junto do Ministério da Agricultura, onde decorreu uma manifestação de suinicultores.

O número elevado de camiões a circular em marcha lenta complicou o trânsito na Segunda Circular e no Eixo Norte-Sul, obrigando a PSP a encaminhar as viaturas (que tinham como destino a Praça do Comércio) para a Alta de Lisboa.

No Terreiro do Paço, o chefe de gabinete do ministro da Agricultura recebeu os representantes dos produtores, que lhe ofereceram um leitão num acto simbólico que visa ilustrar as dificuldades vividas pelos sector. A prenda foi entregue por Sara e Rita, ambas com 5 anos, cuja família trabalha no sector há várias gerações. "Não há dinheiro para alimentar os porquinhos", disseram ao PÚBLICO, minutos antes de entrarem nas instalações do Ministério da Agricultura.

À saída João Correia, porta-voz dos suinicultores, não escondeu a desilusão por não ter sido recebido pelo ministro. “É uma falta de respeito para com pessoas que trabalham 365 dias por ano, num sector que vale 600 milhões de euros”, disse.

Correia criticou “as políticas de assalto” do Ministério da Agricultura e pediu desculpas a quem está parado no trânsito devido à marcha lenta dos camiões que se concentram na Segunda Circular, na Ponte 25 de Abril e no Eixo Norte-Sul. “Essas pessoas não têm culpa pelo estado em que se encontra a suinicultura”, acrescentou.

O porta-voz dos produtores não espera que os camiões consigam chegar ao Terreiro do Paço, mas os suinicultores vão manter-se à porta do ministério de Capoulas Santos e “talvez assem um porco no espeto”.

O comissário Rui Costa, porta-voz Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP, adiantou ao PÚBLICO que está “a acompanhar todas as movimentações dos manifestantes, de modo a equilibrar o direito à manifestação dos suinicultores e o direito ao livre trânsito de pessoas e bens na cidade de Lisboa”. Contudo, não confirma que os camiões sejam impedidos de chegar até ao Terreiro do Paço. “Não posso confirmar cabalmente que não podem ir para esta ou para aquela artéria”, referiu, acrescentando que isso será avaliado no terreno e terá em conta o facto de os camiões boicotarem permanentemente o trânsito ou não.

Depois de ter alertado para os “prejuízos insuportáveis” que os produtores enfrentam, a Federação Portuguesa de Associação de Suiniculores (FPAS) organizou nesta sexta-feira uma manifestação em frente ao Ministério da Agricultura para fazer deste "um dia marcante para a história da suinicultura portuguesa". A decisão foi tomada quarta-feira num plenário de suinicultores.

Através do Facebook, numa mensagem de mobilização, a FPAS pediu civismo aos produtores, mas também “união e determinação”, na defesa de uma actividade que apenas não quer ser extinta no nosso país”. Em causa estão 200 mil postos de trabalho e a continuidade das explorações pecuárias, num cenário de preços baixos em toda a Europa e dificuldades de escoar a produção, na sequência do embargo da Rússia aos produtos agrícolas e alimentares produzidos na União Europeia.

A poucos dias da reunião de ministros da Agricultura, em Bruxelas, a federação pede medidas a nível europeu e nacional para inverter a crise na produção.

“Portugal vai colapsar. Não pedimos apoios financeiros. O que pedimos é, nomeadamente, a reestruturação do crédito a curto prazo. Além disso, é preciso fiscalizar a grande distribuição para que a rotulagem seja um facto e que se estabeleçam regras para que os agentes da fileira tenham o seu espaço [no mercado]”, defendem os produtores.

Vítor Menino, presidente da FPAS, conta que, desde o início do embargo russo e dos problemas na produção, “já encerraram explorações, muitas estão a vender os efectivos e outras não fazem o ciclo completo”. “Já não há dinheiro para comprar alimentação para os animais”, lamenta.

Na próxima segunda-feira, Capoulas Santos, ministro da Agricultura, vai propor aos restantes ministros da UE a criação de quotas de produção, quer na carne de porco, quer no leite (que se debate com problemas semelhantes). Citado pela Lusa, o ministro defende o "estabelecimento de um regime de quotas de produção que, no caso do sector leiteiro, ao limitar a produção, permitiu nas últimas décadas manter os preços equilibrados".

Capoulas Santos vai ainda propor mais ajudas à armazenagem e limites de preços para o leite em pó e manteiga e medidas para circunscrever a produção. No caso do porco, a ideia é reduzir o número de fêmeas reprodutoras. Em cima da mesa está também um pedido de suspensão do embargo russo.

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