Piloto ucraniana desafia tribunal russo e mantém greve de fome

Nadejda Savchenko é acusada pelas autoridades russas de ser responsável pela morte de dois jornalistas russos. Está pela terceira vez em greve de fome e agora não bebe água.

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YURY MALTSEV/AFP

Uma piloto ucraniana que está a ser julgada na Rússia por alegadamente ser responsável pela morte de dois jornalistas russos no Leste da Ucrânia, na sequência de confrontos entre forças ucranianas e separatistas pró-russos em Junho de 2014, aproveitou a última audência para denunciar aquilo que considera ser "uma farsa".

Nadejda Savchenko, de 34 anos, é acusada de estar envolvida num ataque mortal onde dois jornalistas da TV estatal russa, Igor Kornelyuk e Anton Voloshin, foram mortos. As autoridades russas afirmam que Savchenko transmitiu a localização dos dois jornalistas às tropas ucranianas, acusação que ela nega e que a fez começar uma greve de fome e  ingestão de água no dia 4 de Março, há já cinco dias. É a terceira vez que a ex-militar tenta esta forma de protesto desde que foi capturada.

 Savchenko surgiu em tribunal no seu habitual tom de desafio e aparentemente de boa saúde, erguendo o dedo do meio em direcção aos juízes. “Não aceito a minha culpa nem reconheço a sentença de um tribunal russo”, afirmou. A piloto de helicóptero, que pode ser condenada a uma pena de 25 anos caso seja considerada culpada, tornou-se uma heroína nacional enquanto símbolo da resistência anti-Kremlin. Foi eleita deputada para o Parlamento ucraniano e Conselho da Europa meses depois de ser aprisionada. 

O advogado de Savchenko, Nikolai Polozov, afirma que a sua cliente sofre de problemas de coração e começou a ter febre desde que parou de comer e beber na semana passada – a solução que encontrou para protestar contra um julgamento que considera “injusto” e “sem sentido”. "Têm de compreender que eles estão a brincar com a minha vida", declarou Savchenko. "A parada é alta e não tenho nada a perder."

“A sua vida está em perigo”, afirmou Polozov à Reuters. “Enquanto advogados, a nossa principal tarefa é permitir que médicos ucranianos possam chegar junto dela e monitorizar o seu estado de saúde.” O advogado de Savchenko afirmou também que a piloto de helicóptero — que abandonou o seu posto militar no momento de ser eleita deputada na Ucrânia — pretende continuar a sua greve de fome até que possa regressar à Ucrânia, ou que pelo menos lhe dêem garantias de que tal irá acontecer.

Mas o Kremlin assegura que não há conversações para que Savchenko regresse ao seu país, nem isso acontecerá até que o tribunal de Rostov declare o seu veredicto, previsto para o dia 21 ou 22 de Março, segundo declarou esta quarta-feira a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova. Aos apelos da União Europeia e Estados Unidos pela libertação imediata da ex-militar ucraniana a diplomacia russa responde com acusações de interferência política.

Há duas versões sobre a captura de Savchenko. A ex-militar ucraniana afirma ter sido capturada por milícias pró-russas no dia 18 de Junho, perto de Lugansk, alegadamente durante uma missão de resgate de soldados ucranianos e uma hora antes do ataque que matou os dois jornalistas russos. A equipa de defesa afirma que o registo do telemóvel de Savchenko sustenta a sua versão e que, assim sendo, Savchenko deve ser libertada no âmbito dos acordos de Minsk. 

Moscovo, porém, tem uma versão substancialmente diferente da sua captura. O Ministério Público russo afirma que Savchenko foi capturada na Rússia em Julho, e não na Ucrânia, ao tentar entrar no país de forma ilegal, dissimulando-se de requerente de asilo. Savchenko faria parte do batalhão Aidar, um grupo de voluntários ucranianos em combate no Leste do país. A confirmar-se esta versão da história, Savchenko não é prisioneira de guerra e não está abrangida pelos acordos de Minsk. 

Também Svetlana Alexievitch, vencedora do Prémio Nobel da Literatura em 2015 e uma voz bastante crítica da política russa, assinou uma carta aberta aos líderes europeus para que ajam no sentido de garantir a segurança da piloto ucraniana. 

As relações entre a Rússia e a Ucrânia deterioraram-se desde que a Rússia anexou a península da Crimeia em 2014, sendo o país acusado de apoiar rebeldes pró-russos na guerra no Leste da Ucrânia, num conflito em que já morreram mais de nove mil pessoas.

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